Os pagamentos do governo federal à agência de publicidade Calia Y2 Propaganda e Marketing – que pertence a um irmão de Elsinho Mouco, marqueteiro do presidente Michel Temer – cresceram 82% na gestão atual. Os gastos com a empresa somaram R$ 102,1 milhões nos 476 dias após o peemedebista assumir (equivalentes a 15 meses e meio, até 31 de agosto), ante R$ 56 milhões em período idêntico, transcorrido até o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, em 12 de maio do ano passado.
O levantamento foi feito pelo jornal Folha de S.Paulo em dados disponíveis no Portal da Transparência até sexta-feira, dia 27. O site disponibiliza os desembolsos de ministérios e autarquias, por exemplo, excluindo estatais.
Em todo o período de Dilma Rousseff (de janeiro de 2011 a maio de 2016), a média mensal de despesas com a Calia foi de R$ 3,3 milhões, contra cerca de R$ 6,5 milhões no governo Temer. Os valores foram atualizados pela inflação.
Só este ano, os desembolsos de janeiro a agosto alcançam R$ 64 milhões, mais do que em qualquer ano de administração da petista.
Elsinho Mouco foi o responsável por campanhas eleitorais de Temer e presta serviços ao PMDB há pelo menos 15 anos. Com o impeachment, passou a ser responsável pela imagem do presidente. Cunhou o slogan “Ordem e Progresso”, que remonta aos primórdios da República, e o “Bora, Temer” para contrapor a “Fora, Temer”.
Em agosto, Elsinho assumiu o cargo de diretor na agência Isobar (antiga Click), que cuida da estratégia oficial para redes sociais do governo federal, e passou a receber indiretamente do governo, tendo uma sala dentro do Palácio do Planalto. Ele é o responsável por cuidar dos pronunciamentos oficiais do presidente na mídia.
Em maio, Elsinho foi citado na delação premiada de Joesley Batista. O empresário dono da JBS acusou o marqueteiro de receber propina de R$ 3,3 milhões nas eleições de 2010 e 2016. na época, ele divulgou um comunicado afirmando que possuía relação com o grupo JBS desde 2010, “quando fui procurado para desenvolver trabalho de marketing político para a pre-candidatura ao governo de Goiás de um de seus sócios, Júnior Batista, que vem a ser irmão de Joesley. Em 2014 fui novamente contratado com o mesmo objetivo, mas, pela segunda vez, Junior desistiu da candidatura. Em ambas as ocasiões as notas fiscais foram emitidas normalmente”, ressaltou.
“Recentemente, no auge da crise provocada pela operação Carne Fraca [iniciada em março deste ano] recebi uma mensagem de Joesley Batista me consultando quanto à minha disponibilidade de fazer novamente a defesa digital da JBS. Foi o último contato que tivemos”, destacou o publicitário.
Agência Calia
A Calia está em nome de Gustavo Mouco, sócio-administrador da empresa, que é irmão de Elsinho. Além dos contratos com o governo, a agência informa em seu site ter como cliente a Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB. A Pública Comunicação, da qual Elsinho é diretor e procurador, tem contrato com a entidade.
O incremento das receitas da empresa se deve, principalmente, a contratos assinados durante a gestão de Michel Temer. Em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde, controlado pelo PMDB, fechou com a Calia e outras três concorrentes a prestação de serviços de publicidade por um ano, ao custo de R$ 205 milhões. A agência era fornecedora da pasta, mas houve nova licitação.
Após denúncia de uma das participantes da concorrência, a corregedoria do ministério abriu investigação para avaliar a possibilidade de fraude. Em recurso, a Plá Publicidade reclamou que houve um episódio que deu margem para troca de resultados.