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Respiradores que viriam para o Brasil estão retidos nos Estados Unidos

Pelo menos 15 mil devem ser produzidos no Brasil e o restante pode vir do exterior. (Foto: Reprodução)

Em mais um capítulo da novela dos cancelamentos de suprimentos médicos fornecidos pela China, 600 respiradores artificiais ficaram retidos no aeroporto de Miami, nos Estados Unidos, de onde seriam enviados ao Brasil. A informação foi antecipada pela Folha de S.Paulo.

Ao jornal O Globo, a assessoria de imprensa da Casa Civil do Estado disse que “a operação de compra dos respiradores foi cancelada unilateralmente pelo vendedor”, que não deu maiores explicações, apenas que a carga teria outro destino. O valor não chegou a ser desembolsado pelo governo da Bahia.

“Neste momento, estamos buscando novos fornecedores”, afirmou ao Globo a Casa Civil, que não quis informar se já está negociando com outros países ou quais fornecedores tem em vista para suprir a demanda.

Apesar de o fornecedor não ter informado o novo destino da encomenda, desconfia-se que os equipamentos sejam redirecionados agora ao combate da crise de coronavírus nos Estados Unidos, que registraram o maior número mundial de mortes em um só dia pela doença na quinta-feira (2).

Fornecedores chineses têm sido acusado de cancelar contratos com países como Brasil, França e Canadá, e favorecer os EUA, que teriam acertado pagamentos muito mais altos, já que não existem regras para esse tipo de situação no comércio internacional.

Na quarta-feira (1º), o ministro da Saúde do Brasil, Luiz Henrique Mandetta, já havia feito declaração similar, afirmando que compras brasileiras haviam “caído” depois da confirmação das compras americanas.

Segundo o The New York Times, a negociação entre empresas privadas americanas e chinesas foi feita com ajuda da mediação do genro do presidente americano Donald Trump, Jared Kushner. O avião que pousou no domingo (29) em Nova York vindo de Xangai trazia 130 mil máscaras N-95, quase 1,8 milhão de máscaras cirúrgicas e roupas e mais de 10,3 milhões de luvas, além de 70 mil termômetros.

Trump

Um dia depois de o presidente Donald Trump invocar a  Lei de Produção de Defesa, uma legislação criada nos anos 1950, para forçar a gigante industrial 3M a aumentar o ritmo de fabricação de máscaras usadas pelos profissionais médicos que tratam de pessoas infectadas pelo coronavírus, a empresa alertou para os possíveis impactos da medida para o resto do mundo.

Em comunicado publicado na manhã desta sexta-feira (3), a 3M, uma das maiores fabricantes de máscaras do mundo, disse que vem ampliando a sua capacidade de produzir o equipamento, atendendo a uma demanda do próprio governo. Isso inclui ainda a importação de milhões de máscaras de unidades da empresa na China. A própria 3M, em princípio, elogia o uso da lei, que priorizou os pedidos feitos pela Fema, a agência do governo responsável por agir em situações de desastre.

Contudo, a 3M questiona uma segunda parte da ordem de Trump, que é bem clara ao exigir que a empresa suspenda todas as exportações de máscaras, hoje destinadas principalmente à América Latina e ao Canadá.

“Há implicações humanitárias significativas decorrentes da suspensão do fornecimento de máscaras para trabalhadores da saúde na América Latina e no Canadá, onde somos fornecedores críticos do equipamento”, afirmou a nota.

A empresa também alerta para efeitos negativos aos próprios americanos.

“Ao se suspenderem as exportações de máscaras produzidas nos EUA, outros países poderão retaliar e fazer o mesmo, como já fizeram. Se isso ocorrer, o número de máscaras disponíveis para os EUA diminuiria na prática. É o oposto do que nós e o governo, em nome do povo americano, queremos.”

Na entrevista coletiva desta sexta, Trump também disse que assinou uma nova ordem impedindo não apenas a exportação de máscaras, mas também de outros itens e suprimentos médicos usados contra o coronavírus, algo que pode gerar novas reações ao redor do mundo.

“Um erro”

No Canadá, país que não fabrica as máscaras N-95, o primeiro-ministro Justin Trudeau enfatizou a importância de manter as linhas de suprimento abertas e disse que seria “um erro criar bloqueios ou reduzir o comércio” entre os dois países:

“Há produtos médicos e outros artigos essenciais que se movimentam através da fronteira nas duas direções… há coisas com as quais os americanos contam”, observou Trudeau.

Na quinta-feira, horas depois do anúncio do recurso à lei dos tempos da Guerra Fria contra a 3M, o próprio Trump foi ao Twitter atacar a empresa e dizer que “não estava feliz” com ela.

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