Para além da comoção do caso Juliana Marins, o risco de enfrentar mais uma crise de popularidade foi um fator que pesou na decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para mudar regras e autorizar o governo a bancar o traslado de corpos de brasileiros mortos no exterior em situações específicas.
Nas redes sociais, adversários do petista questionavam por que o governo havia usado a Força Aérea Brasileira “para importar corrupto” mas não podia arcar com gastos para trazer a turista que morreu tragicamente na Indonésia. O tema ganhou tração no debate virtual nos últimos dois dias.
A indagação era uma referência ao fato de o governo ter autorizado, em abril, o transporte da ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia, condenada por lavagem de dinheiro. A mulher do ex-presidente Ollanta Humala conseguiu asilo político no Brasil.
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi um dos que levantaram a comparação no X (antigo Twitter). “Enquanto isso, avião da FAB é usado por governo para buscar a ex-primeira-dama do Peru condenada por lavagem de dinheiro e asilada no Brasil”.
O senador Sergio Moro (União-PR) também criticou o episódio: “Começou errado ao Lula enviar o avião da FAB para buscar a primeira-dama corrupta do Peru. E está ficando cada vez pior”.
Um levantamento da Coluna do Estadão no Google Trends aponta que as buscas no Google pelos dois assuntos — traslado de Juliana e voo de Nadine Heredia — ganharam tração e registraram picos na quarta-feira (25), e na quinta (26), véspera do novo decreto do governo.
Na quarta, alcançaram o auge os termos: “Nadine Heredia”, às 8h; “translado”, às 15h; “translado da Indonésia para o Brasil”, às 17h; “translado Juliana Marins”, às 21h.
No dia seguinte, as seguintes pesquisas no Google alcançaram os picos: “Nadine Heredia avião da FAB”, às 8h; e “Lula translado”, às 14h.
Normas anteriores
Pelas normas que estavam em vigor até essa sexta (27), o Ministério das Relações Exteriores não era responsável por assumir as despesas, que a legislação não considera como auxílio consular. A pasta atua, por exemplo, no acompanhamento do caso junto a autoridades locais.
O novo texto, publicado no Diário Oficial da União (DOU), autoriza que o Itamaraty afaste a vedação ao traslado de corpos “em caráter excepcional e motivado”.
Além da comoção, é necessário que a família comprove a incapacidade financeira para o custeio das despesas com o traslado que não estiver coberto por seguro. Também é preciso haver disponibilidade orçamentária e financeira.
No último dia 20, Juliana Marins caiu de um penhasco que circunda uma trilha junto à cratera do Monte Rinjani, vulcão localizado na Ilha de Lombok, na Indonésia. A publicitária foi encontrada morta na terça-feira (24). O resgate demorou quatro dias para chegar.
Ela fazia uma trilha rumo ao cume do Monte Rinjani por volta das 4h da manhã do último sábado (21), noite de sexta-feira (20), pelo horário do Brasil. (Com informações do Estado de S. Paulo)