O ritmo lento da economia brasileira vai permitir juros baixos e razoavelmente estáveis até meados de 2021, caso o cenário siga o mesmo.
Parece não haver espaço para surpresas positivas sobre o desempenho da economia brasileira no futuro próximo, embora haja lugar para as negativas, vindas do cenário externo.
Em seu Relatório de Inflação, de setembro, o Banco Central manteve a perspectiva de crescimento gradual, um pouco melhor em relação à projeção anterior para o ano corrente (de 0,8% para 0,9%) e ligeiramente mais pessimista para 2020 (1,8%) em relação às projeções feitas para o boletim Focus. Serão mais dois anos de expansão medíocre.
No curto prazo, o crescimento acima do esperado no segundo trimestre do ano (0,4%) aumentou, segundo o BC, o carregamento estatístico para os próximos trimestres. A economia mostra avanço lento no terceiro trimestre, que deverá se acelerar na última quadra do ano. Além disso, contribuíram para a projeção maior o comportamento mais positivo da agricultura (1,8% ante 1,1%), um resultado agora positivo (0,1%) da construção civil, ante a perspectiva bastante negativa anterior e a melhora das vendas do comércio. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias foi revisado para cima (1,6%) e o dos investimentos, para baixo (2,6%).
Alguns fatores permitem prever uma aceleração (se comparada à lentidão exasperante dos últimos três anos) da atividade econômica. O desemprego tem diminuído e o aumento da ocupação, mesmo que esteja se dando predominantemente no setor informal, é superior ao declínio do rendimento médio real dos trabalhadores. Com isso, a massa salarial real também cresceu no trimestre encerrado em julho (0,2%), como ocorrera no trimestre encerrado em abril (0,7%). Ainda que o desemprego recue lentamente, o aumento da massa salarial favorece o consumo das famílias, que poderá crescer 2,2% em 2020, segundo projeções do BC.
Boa parte da evolução do consumo estará apoiada na expansão do crédito com recursos livres, que cresceu 11,5% nos doze meses encerrados em agosto — o crédito direcionado caiu 2,7% no período — e está sendo destinado mais para pessoas físicas, (14,5%), do que para as empresas (7,5%). O crédito total, para o BC, aumentará menos que o imaginado no início do ano, 5,7% em relação à projeção anterior, de 6,5%. No entanto, em 2020 será bem mais vigoroso, evoluindo 8,1%.
A formação bruta de capital fixo crescerá marginalmente em relação a 2019 (2,9%), e sua recuperação do ciclo recessivo é bem mais lenta do que foi em recessões anteriores. Do pico pré-recessão, no segundo trimestre de 2013, até o fim do período recessivo no quarto trimestre de 2016, a FBCF declinou 32%.
De lá até o segundo trimestre deste ano, cresceu apenas 8,6%. A taxa de investimento, que é a divisão da FBCF pelo PIB, caiu no período 5 pontos percentuais (de 20% para 15%, a grosso modo). Para se ter ideia do estrago, e do longo caminho a percorrer até voltar ao pico de 2013, a demanda aparente de máquinas e equipamentos está hoje 35,4% menor, a de veículos, 43% menor e a de caminhões e ônibus, 41,8% inferior.
Pela letargia econômica, a inflação caminha para ficar mais uma vez abaixo do centro da meta de inflação. Se o BC estiver certo na previsão de evolução do IPCA nos próximos três meses, a inflação em doze meses cairá, de 3,43% para 3,17% em novembro. A média dos sete núcleos de inflação calculados pelo BC, nos doze meses encerrados em agosto a 3,04%, ante 3,41% em maio.
Estes números dão respaldo à decisão do Comitê de Política Monetária de reduzir a Selic de 6% para 5,5% em sua reunião do mês e sinalizar para um corte adicional no curto prazo. O BC fez simulações com juros a 5% e taxa de câmbio a R$ 4,05 e o resultado foi um IPCA de 3,4% em 2019, longe da meta de 4,25%, e de 3,8% em 2020, já próximo da meta de 4%.
O relatório traz novos exercícios para prazos mais longos, embora em dois deles, que usam a Selic constante, a taxa seja de 6% e não 5,5% atuais. Com essa taxa e câmbio a R$ 4,05, a inflação não ultrapassaria a meta até o último trimestre de 2021. No cenário de mercado, em que o juro começa a subir em 2021 e para em 7%, embora a um câmbio mais apreciado do que hoje, a inflação não supera a meta até o terceiro trimestre de 2022. O cenário que menos se desvia para cima do centro da meta de 2022, de 3,5%, considera juros a 7% e câmbio a R$ 4,05.
Resumindo, se tudo se mantiver como está hoje, hipótese pouco provável, mas admissível, os juros poderão se manter razoavelmente estáveis até meados de 2021. Pelos padrões brasileiros, seriam juros reais bem baixos por um período longo de tempo. As informações são do jornal Valor Econômico.