Já parou para pensar sobre tudo o que o Facebook sabe sobre você? E mais do que isso, sobre que conexões ele faz para obter informações a seu respeito? A rede social mais popular do mundo reúne dados detalhados sobre quase 1,5 bilhão de pessoas, cerca de 96 milhões delas no Brasil. Com essas informações, a gigante criada por Mark Zuckerberg consegue vender anúncios segmentados para outras empresas – um restaurante que quer atingir mulheres de 25 a 40 anos em determinada cidade e que gostem de culinária asiática, por exemplo.
Para tornar esses anúncios mais eficientes, o Facebook precisa ter um raio-x bastante preciso das pessoas que eles podem atingir. Para isso, usa não só as informações sobre tudo o que você faz na rede – o que curte, o que decide que não quer ver, de onde você se conecta, onde faz check-in (marcar onde está) etc. – como também tudo o que você faz em outros sites e aplicativos nos quais optou por se cadastrar via seu perfil de Facebook.
É por isso que, mesmo ajustando configurações de privacidade, é impossível evitar que o site armazene informações sobre você. Não adianta compartilhar mensagens, avisos nem manifestos. “Quando você cria uma conta no Facebook, automaticamente concorda que ele usará seus dados para ganhar dinheiro. É o preço que você paga”, explica o especialista em direito digital Thiago Tavares, da ONG Safernet.
Nos últimos anos, e após casos polêmicos como o do austríaco Max Schrems – cuja investigação sobre o que o Facebook sabia sobre ele levou à maior ação coletiva contra a empresa no mundo, o caso Europa versus Facebook –, a empresa tem deixado mais claras suas políticas de dados e de privacidade. Mesmo assim, ainda pode ser surpreendente mergulhar na infinidade de dados que você fornece, voluntária e involuntariamente, ao Facebook.
“É um exercício de tirar o fôlego, porque quando você solicita e recebe o arquivo com todos os seus dados, passa a ter uma dimensão do quão exposto você está. Passo isso como exercício para meus alunos na universidade. A maioria das pessoas diz ‘não sabia que eles tinham tantas informações a meu respeito’”, conta Tavares.
Algumas das informações surpreendentes que o Facebook armazena.
Tavares explica que existem 34 pontos na face que são fixos e mapeáveis. E o Facebook armazena essas “coordenadas” do seu rosto. É por isso que, quando um amigo coloca uma foto com você, o Facebook consegue saber que você está lá e sugerir que ele te marque nela. No entanto, você pode impedir que a empresa guarde esse mapa da sua face e reconheça você nas fotos. Basta ir em “Configurações da linha do tempo e marcações” e escolher a opção “Ninguém” na pergunta “Quem vê as sugestões de marcações quando fotos parecidas com você são carregadas?”.
Por onde você anda – dentro e fora da internet – também é investigado. Para muitos, uma das seções mais surpreendentes do arquivo do Facebook é a de “Segurança”. Ali estão, por exemplo, informações sobre os computadores, celulares e tablets que você usou para entrar no site, como o IP.
Estes são tipos de “ogs de acesso”, que, de acordo com o Marco Civil da Internet no Brasil, devem ser armazenados por pelo menos seis meses para permitir que a polícia investigue crimes na rede social. “Se eu desabilitar no meu navegador o armazenamento de cookies, não consigo usar o Facebook e muitos sites ou serviços. É por isso que esses produtos não são de graça como a maioria acha que são. Você paga com seus dados pessoais e com sua privacidade, fornecendo esse rastro de tudo o que faz”, diz Tavares.
Além disso, as fotos que você “esqueceu” no celular também ficam no site. O app do Facebook para smartphones traz, atualmente, uma opção de sincronizar automaticamente o seu celular com o seu perfil na rede. Habilitando a opção, o site se comunica com seu celular e transfere as últimas fotos que você tirou para um álbum privado. Tavares alerta para os perigos da ferramenta. Afinal, fotos indesejadas também podem acabar indo parar no site. E se alguém conseguir a senha da sua conta, terá acesso a elas. (AG)