O primeiro homem que Sally, 30 anos, conheceu no Tinder parecia promissor. “Tivemos uns papos muito bons”, diz. Eles saíram algumas vezes e se falavam constantemente, tendo trocado cerca de 80 mensagens. E aí, sem nenhuma explicação, ele mandou uma mensagem cortando ela de sua vida. “Como ele não tinha nenhuma ligação comigo, foi brutal”, diz Sally.
Ela aderiu ao Tinder há dois anos, após o fim de um relacionamento, e há pouco tempo se inscreveu no Happn, outro app que junta pessoas que já cruzaram seus caminhos (fisicamente).
Mas, com o tempo, ela ficou receosa sobre aplicativos de namoro. “Toda essa ideia de satisfação instantânea estragou o sexo para uma geração inteira de mulheres”, diz ela.
O Tinder funciona assim: o usuário vê a foto de uma pessoa e, se gostar, desliza a tela para a direita (ou clica duas vezes para indicar que gostou daquela pessoa). Se não, desliza para a esquerda, e essa pessoa desaparece do seu “catálogo” de perfis.
Fim do romantismo?
O app, que conforme o site The Drum é responsável por 8 bilhões de conexões em 196 países, é o mais popular do tipo no mundo. Os usuários arrastam a tela 97,2 mil vezes por minuto – e a maioria passa, em média, 11 minutos por dia olhando perfis de potenciais pares (os “matches” do Tinder).
Mas é comum ouvir pessoas lamentando o tipo de comportamento que o Tinder, teoricamente, incentiva. Há notícias sobre o “apocalipse dos encontros” que “mata” ou “varre” o romantismo, enquanto outros denunciam que ele está acabando com a sociedade.
“É como um catálogo de loja de departamento, com tudo disponível – é o equivalente a ter centenas de homens em pé em um bar lhe dizendo o quanto gostam de você, mas lhe dispensando no minuto em que uma mulher mais gostosa aparece”, diz Sally.
Assim como o Tinder, outros aplicativos de paquera são muito populares. O site eHarmony tem mais de 66 milhões de usuários, e 7,3 milhões de mensagens são enviadas pelo OkCupide todos os dias.
Pouco eficiente.
Não há nada novo em olhar fotos para escolher um parceiro, diz Lucy Brown, professora do Einstein College of Medicine, em Nova York (EUA), e coautora de diversos artigos sobre a neurobiologia do amor romântico.
Lucy alerta que isso não é uma forma especialmente eficiente de escolher alguém. Humanos são programados para julgar as pessoas após vê-las “em movimento”, diz ela, e não por meio de uma mistura de imagens paradas e mensagens em uma tela.
Segundo Lucy, são precisos, em média, três anos vivendo junto com alguém até essa pessoa se revelar por inteiro. Mas apps como o Tinder são mais conhecidos por facilitar relacionamentos de curta duração.
Mudanças no cérebro.
Existem provas que sugerem que mudanças clínicas importantes acontecem dentro do cérebro durante os primeiros dias de um relacionamento.
Um levantamento feito pela Universidade de Pisa (Itália), em 1999, descobriu que os níveis do químico “mensageiro cerebral” serotonina em pessoas passando pela fase inicial do amor eram comparáveis aos níveis daqueles que têm TOC (transtorno obsessivo-compulsivo).
E, em 2007, cientistas da Universidade da Basiléia (Suíça) descobriram que esse primeiro estágio de paixão é comparável à hipomania – um estado de energia alta, menos inibição e menos necessidade de dormir.
A professora Bianca Acevedo, pesquisadora da Universidade da Califórnia em Los Angeles (EUA), diz que há um aumento de dopamina – um químico que transmite sinais para o cérebro – nos estágios iniciais de um relacionamento, o que faz com que as pessoas fiquem animadas.
Esse sistema de recompensa inconsciente é algo em que as pessoas precisam ser viciadas “pela nossa sobrevivência”. No entanto, isso não garante o fim dos encontros ruins ou o dilema dos encontros marcados on-line.