A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de assassinar o general Qasem Soleimani, chefe da Força Quds do Irã, desencadeou uma série de consequências. Uma das primeiras está ligada à guerra inacabada contra jihadistas, extremistas em “guerra santa” contra o Ocidente.
Quase imediatamente, a coalizão liderada pelos norte-americanos e que luta contra o grupo Estado Islâmico suspendeu as operações no Iraque. Washington e seus aliados anunciaram que seu principal trabalho agora é se defender. Do ponto de vista militar, provavelmente eles não tinham outra escolha.
O Irã e as milícias que o apoiam aqui no Iraque juraram vingança pelos assassinatos causados pelo míssil disparado por um drone americano contra o veículo de Soleimani, quando este deixava o aeroporto de Bagdá.
Isso coloca as forças americanas no Iraque, além das forças dos aliados ocidentais que trabalham ao lado dos Estados Unidos, diretamente na linha de tiro. E é muito bom para o Estado Islâmico e vai acelerar sua recuperação dos golpes que levou quando seu “califado” foi destruído.
O fato de o Parlamento iraquiano ter aprovado uma moção exigindo a retirada das tropas americanas de todo o país também foi uma boa notícia para os extremistas. O Estado Islâmico tem sido muito resiliente ao longo de muitos anos. Ele se regenerou das ruínas de um grupo anterior, a Al Qaeda, no Iraque.
Uma grande operação militar em 2016 e 2017 foi necessária para acabar com o controle do Estado Islâmico sobre um território que se estendia pelo Iraque e pela Síria.
Muitos combatentes jihadistas acabaram mortos ou na prisão. Mas isso não acabou com a organização. Ela ainda está ativa em seus antigos locais no Iraque e na Síria, montando emboscadas, extorquindo fundos e acabando com mais vidas.
O Estado iraquiano possui unidades militares e policiais de elite, treinadas principalmente pelos americanos e aliados europeus que se juntaram à luta contra o Estado Islâmico.
Desde o assassinato de Soleimani, os EUA suspenderam o treinamento e as operações, assim como a Dinamarca e a Alemanha. Os alemães estão levando seus treinadores militares que estavam no Iraque para a Jordânia e o Kuwait.
As forças iraquianas assumem a maioria dos riscos em relação às operações contra o Estado Islâmico. Mas, além do treinamento, eles contam com a ajuda logística vital das forças americanas, que agora estarão confinados em suas bases.
Os militantes do Estado Islâmico têm ainda mais a comemorar. Quando Donald Trump decidiu matar Soleimani, eles assistiram a um espetáculo em que um de seus inimigos, o presidente dos EUA, assassina outro.
Em 2014, os jihadistas foram para a ofensiva, capturando grandes áreas do Iraque, incluindo a cidade de Mosul. O principal clérigo xiita no Iraque, o aiatolá Ali al-Sistani, chamou às armas para combater os extremistas sunitas.
Jovens xiitas se voluntariaram aos milhares e Soleimani e sua Força Quds tiveram um papel de peso na transformação desses jovens em unidades armadas. Essas milícias eram inimigos cruéis e muitas vezes brutais do Estado Islâmico.
Agora, os grupos apoiados pelo Irã foram absorvidos pelas forças armadas iraquianas sob uma organização abrangente chamada Mobilização Popular. Os líderes de milícias mais importantes tornaram-se poderosos líderes políticos.
Nos anos seguintes a 2014, os Estados Unidos e as milícias enfrentaram o mesmo inimigo. Mas as milícias xiitas agora parecem voltar às suas raízes, que estão na luta contra a ocupação liderada pelos EUA após a invasão de 2003.
