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Saiba por que a reunião entre os dois mais poderosos do planeta pode não ocorrer daqui a duas semanas, como estava previsto

Trump e Xi Jinping teriam reunião no fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, daqui a duas semanas. (Foto: Reprodução)

No texto em rede social em que anunciou a taxação de produtos importados da China em 100%, o presidente dos EUA, Donald Trump, escreveu que “parece não haver razão” para manter uma reunião que ele teria com o líder chinês, Xi Jinping, no fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, na sigla em inglês), marcado para daqui a duas semanas. Mais tarde, porém, em conversa com repórteres na Casa Branca, ele deu um passo atrás. “Não sei se terei a reunião com Xi, mas eu estarei lá ( na Apec).”

Pequim e Washington buscaram, nos últimos meses, construir um consenso sobre um novo acordo comercial. Trump e Xi conversaram duas vezes por telefone. Em uma delas, selaram um acordo sobre o destino da operação do TikTok nos EUA, que estava ameaçada após a promulgação de uma lei que determinava que a rede social teria de ter um sócio americano para continuar operando nos Estados Unidos.

O acordo preparou o cenário para uma possível reunião neste mês na Coreia do Sul, o que especialistas avaliavam como um grande avanço nas relações entre os dois países e a abertura de negociações para uma possível visita de Trump a Pequim no próximo ano.

“Havia um entendimento tácito de que uma pausa na escalada seria benéfica para ambos os lados”, escreveu Ryan Hass, diretor do John L. Thornton China Center e titular da cátedra Chen-Fu e Cecilia Yen Koo em Estudos de Taiwan na Brookings, na rede social X. “Isso deu a ambos tempo e espaço para construir maior autossuficiência. A forte reação de Trump aos novos controles de exportação da China sugere que ele sentiu que Pequim havia quebrado esse entendimento tácito.”

As ameaças da Casa Branca comprometeram os planos de encontro dos líderes, mesmo para além do fórum da Apec deste mês. Tais reuniões de alto nível entre os líderes dos dois países e autoridades militares são frequentemente sujeitas a descarrilamentos de última hora, dada a sensibilidade da relação. Em fevereiro de 2023, quando um suposto balão espião chinês foi detectado sobrevoando os Estados Unidos, uma visita planejada de altos funcionários americanos a Pequim foi abruptamente cancelada, enquanto ambos os lados lidavam com as consequências. Da mesma forma, quando a então presidente da Câmara, Nancy Pelosi (democrata pela Califórnia), visitou Taiwan em agosto de 2022, Pequim imediatamente cortou as linhas de comunicação militar com Washington.

Sem trégua

Durante as negociações de um novo acordo comercial, os dois países fizeram, a conta-gotas, anúncios de medidas não tarifárias que incluíram controles de exportação, boicotes agrícolas e investigações antitruste.

No mês passado, Trump ampliou a lista do Departamento de Comércio de empresas chinesas com vetos para vender produtos aos EUA, incluindo subsidiárias de empresas-mãe, em uma medida que irritou Pequim. A China respondeu ameaçando reter materiais diversos usados por empresas americanas.

“O presidente Trump não tem escolha a não ser responder com firmeza à ação da China”, disse Chris McGuire, ex-diretor sênior adjunto de Tecnologia e Segurança Nacional do Conselho de Segurança Nacional durante o governo Joe Biden. “Ele também está correto ao afirmar que os Estados Unidos têm inúmeras opções de resposta que causariam à China um sofrimento significativo a curto prazo, particularmente nos setores de tecnologia e financeiro, onde a China continua altamente dependente dos Estados Unidos.”

Uma comissão da Câmara que trata das relações da China com os EUA incentivou o governo a tomar medidas imediatas para “estrangular” o setor de tecnologia de Pequim, incluindo a proibição de exportações de chips avançados e a retirada de empresas chinesas das Bolsas de Valores dos EUA.

Disputa

Há um entendimento dentro da comissão de que o movimento chinês de barrar o comércio de terras raras tem de ser respondido.

O presidente da comissão, John Moolenaar, republicano do Estado de Michigan, disse em um comunicado que as medidas chinesas representam “uma declaração econômica de guerra contra os Estados Unidos”. O deputado Raja Krishnamoorthi, democrata de Illinois, disse que as restrições da China mostram que o país está “disposto a usar seu controle sobre materiais críticos como uma ferramenta de coerção”.

Alguns analistas, porém, alertaram que as medidas de Xi tinham como objetivo impedir que Trump pressionasse demais nas negociações. “Vimos Trump ameaçar romper o relacionamento pelo menos três vezes neste ano, mas em todas as ocasiões ele voltou à mesa porque sabe que a China pode prejudicar os EUA tanto quanto ele pode prejudicar a China”, disse Jake Werner, diretor do Programa do Leste Asiático no Instituto Quincy. “Acho que esse será o resultado desta vez também.” Com informações de O Estado de S. Paulo

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