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Saiba por que as mulheres sofrem mais com o etarismo que os homens

No mundo corporativo, as mulheres mais velhas também precisam lidar com a questão da beleza e perdem status mesmo quando estão em posições de topo. (Foto: Reprodução)

Sexismo, racismo e etarismo (ou idadismo, como preferem alguns) são os três grandes preconceitos que constroem nossas relações cotidianamente. Agora, o etarismo é a bola da vez! Demoramos para perceber que as mulheres e os negros (pretos e pardos) representam a maioria da população brasileira, se é que de fato percebemos. E, agora, estamos caindo na real de que o Brasil, considerado um país jovem, envelheceu.

Hoje, um terço da população economicamente ativa tem mais de 45 anos e 10% da população tem mais de 65 anos. Movimentos que trazem o debate sobre a longevidade têm se espalhado mundialmente, mas preconceitos são difíceis de serem superados e exigem mudanças pessoais e sociais profundas.

No Brasil, esse rápido envelhecimento resulta do aumento da expectativa de vida e da diminuição do número de filhos por casal, com impactos diretos na composição da força de trabalho. Em paralelo, outros fenômenos acontecem: em cinquenta anos saltamos da maioria da população vivendo na zona rural, para uma concentração
nas cidades.

Mais recentemente, com a mudança de mentalidade provocada pela intensa difusão das mídias sociais e recente pandemia, observamos uma população (jovens e velhos) mobilizada por interesses que vão além de uma identidade construída apenas nas relações de trabalho. Falta mão de obra jovem nas plantas industriais, ao mesmo tempo em que trabalhadores 60+ são excluídos da força de trabalho por diferentes motivos, entre eles, o preconceito puro e simples.

As empresas não têm investido na gestão da idade, apesar das múltiplas gerações presentes nas corporações, desde os baby boomers, geração X, Y até a geração Z. Sabemos que inúmeros estereótipos cercam todas essas gerações: os boomers não entendem de tecnologia, a geração Z não se compromete no trabalho, entre outras.

Os estereótipos, infelizmente, trazem estigmas que não correspondem ao olhar mais atento às pessoalidades. Profissionais jovens e velhos querem mais equilíbrio na relação vida e trabalho; jovens e velhos entendem de tecnologia. Uma questão que se interseciona nesse quesito não é idade, e sim classe social e renda.

Claro que existe preconceito contra os jovens, mas os mais velhos sofrem mais comestereótipos. O ideal, num país jovem, é ser jovem, mesmo quando isso não reflete mais a demografia brasileira. E as mulheres? Na intersecção de gênero e idade, elas continuam perdendo e nunca estão na idade certa. Quando jovens, são jovens
demais, e o que fala mais alto é a beleza. Nos trinta, podem ter filhos. Sim, elas ainda são responsáveis pela reprodução da força de trabalho, mas ter filhos não é lá muito bem visto no trabalho. E próximas dos 50 já perderam seu encanto.

Envelhecer para as mulheres não é uma coisa fácil, diz Madonna, com um discurso poderoso de uma mulher que enfrentou muitas barreiras para chegar onde chegou. Não só a Madonna, mas as pesquisas científicas mostram que – estereotipadamente – os homens velhos são vistos como sábios, têm experiência acumulada, conhecimento de vida. Mulheres velhas são só velhas. Alguns atendentes no setor de serviços, inconscientes de sua própria finitude, dizem: “vou explicar para seu filho, ele vai entender”, como se mulheres mais velhas fossem incapazes de raciocinar.
Ainda que o preconceito da idade exista para homens e mulheres ao longo da vida, para a mulher, a questão da
aparência agrava a questão. O preconceito se evidencia no mercado de cosméticos e cirurgias plásticas, no qual somos campeões. A busca pela juventude eterna e pela beleza movimenta bilhões.

Nas relações afetivas entre homens e mulheres, “os homens podem”, me disse uma vez um querido colega sobre a diferenças de idade entre casais. As mulheres não podem — preconceito visível em hostilidades explícitas contra casais onde a mulher é mais velha, evidente no caso dos Macron ou, para usar um exemplo local, com Fátima Bernardes.

No mundo corporativo, as mulheres mais velhas também precisam lidar com a questão da beleza e perdem status mesmo quando estão em posições de topo.

Uma possível razão para a menor presença feminina na alta liderança é justamente a questão da idade, já que mulheres mais velhas têm chances menores na concorrência com homens mais velhos. Sem dúvida, queremos viver mais, com bem-estar – e as ciências da vida têm contribuído para isso – mas qual o preço a pagar? A finitude, a consciência da própria morte, é algo difícil de encarar. Como diz o velho e sábio Freud, os humanos gostam
mesmo é da ilusão. As informações são do portal Valor Econômico.

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