No dia 9 de agosto, Fernando Villavicencio, de 59 anos, um candidato à presidência do Equador, foi assassinado com tiros na cabeça. A polícia matou um dos suspeitos e prendeu outros seis e revelou que todos eles são da Colômbia.
Eles já foram condenados por crimes em seu próprio país –inclusive por crimes graves, como homicídio e tráfico de armas.
Essa não foi a primeira vez que colombianos estiveram envolvidos em crimes contra políticos de outros países: em julho de 2021, no Haiti, 17 ex-militares da Colômbia invadiram a residência do então presidente Jovenel Moise e o assassinaram diante de sua esposa.
A presença de colombianos em crimes contra políticos de outros países não é uma coincidência, segundo pesquisadores que estudam a Colômbia.
O país teve décadas de conflitos com diversos grupos, e uma parte deles se especializou e passou a atuar fora do país.
Especialização e exportação
Mesmo antes da morte de Moise, sabe-se que havia ex-militares colombianos no Iêmen, Síria, Iraque, Afeganistão e Emirados Árabes. Nesses locais, eles protegiam construções para empresas de segurança polêmicas, como a americana Blackwater, extinta. Alguns os chamam de mercenários.
Segundo afirmou o pesquisador colombiano especializado em conflito e crime organizado Jorge Mantilla em entrevista à agência de notícias AFP, o crime organizado na Colômbia se especializou e expandiu sua presença pelo continente.
Para Mantilla, os crimes no Equador e no Haiti mostram que a especialização de criminosos colombianos é fruto do conflito armado de seis décadas entre diversos grupos diferentes:
*Guerrilheiros,
*Paramilitares,
*Traficantes de drogas e
*Forças públicas.
A Colômbia tem uma história de períodos com muitos crimes desde meados do século 20. O período entre 1948 e 1958 foi marcado por uma onda de violência política e conflitos armados entre diferentes grupos e facções, com um grande número de mortes. Essa era é conhecida como “La Violência.”
Traficantes
Joana das Flores Duarte, professora da Universidade Federal de São Paulo, afirma que a presença dos grupos colombianos está ligada ao mercado global de drogas, principalmente de cocaína, um negócio que conta com grupos de diversas nacionalidades, inclusive brasileira.
Ela afirma que a origem dessa especialização de colombianos é resultado de uma cooperação entre grupos criminosos de países como Itália, Holanda, Estados Unidos e Brasil.
Ela também diz que a política de guerra às drogas, patrocinada pelos americanos, acabou por tornar esse mercado mais violento.
Ou seja: grupos criminosos da Colômbia já têm alguma experiência em atuar em outros países.
Duarte diz ainda que há uma relação entre o aumento da violência e a precarização socioeconômica.
“A alta taxa de desemprego, informalidade, destituição de direitos e falta de acesso a serviços básicos contribuem para a insegurança e a violência. Muitas pessoas ingressam em grupos criminosos por necessidade material, o que cria uma complexa teia de interações entre as questões sociais e as dinâmicas criminosas.”