Embora fumar cause aproximadamente 85% dos problemas de câncer de pulmão não fumar não necessariamente garante proteção contra a doença. “O câncer de pulmão em pessoas que não fumam não é uma questão trivial”, diz Charles Swanton, médico chefe da organização Cancer Research UK. “Na minha experiência, de 5% a 10% dos pacientes (de câncer de pulmão) nunca fumaram”.
Isso também parece afetar as mulheres de maneira diferente: um estudo descobriu que uma em cada 5 mulheres que têm câncer de pulmão nunca fumaram; entre homens, é um em cada 10. Um estudo com pacientes com câncer de pulmão que passaram por cirurgia entre 2008 e 2014 no Reino Unido apontou que, entre os que nunca haviam fumado, 67% eram mulheres.
Parte dessa disparidade provavelmente tem a ver com a exposição indireta de mulheres a fumaça – o fumo passivo. O fato de que mais homens que mulheres fumaram historicamente significa que a chance de uma mulher não-fumante casar com um marido que fuma é mais alta que vice-versa.
Para piorar a situação, como a Organização Mundial de Saúde apontou, “mulheres e crianças muitas vezes não têm poder para negociar por espaços livres de fumaça de cigarro, inclusive em suas casas”. O fumo passivo aumenta a chance de um não fumante ter câncer de pulmão entre 20 e 30% e causa 430 mil mortes no mundo inteiro todo ano – 60% delas são mulheres.
Deveres domésticos de gênero podem ser relevantes em algumas situações. O uso do carvão para cozinhar pode estar ligado ao câncer de pulmão em mulheres não fumantes na China e alguns combustíveis para fogo usados na Índia também podem aumentar o risco de câncer de pulmão.
Enquanto isso, a proporção de pacientes com câncer de pulmão que nunca fumaram está aumentando. Um estudo americano apontou que 17% das pessoas diagnosticadas com a forma mais comum de câncer de pulmão entre 2011 e 2013 nunca fumaram, comparado a 8,9% das pessoas diagnosticadas entre 1990 e 1995. No Reino Unido, pesquisadores apontaram que a proporção de não-fumantes que passam por cirurgia de câncer de pulmão pulou de 13% para 28% entre 2008 e 2014.
No Brasil, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) diz haver 28,2 mil casos anuais de câncer de pulmão no Brasil e estima que 10% não sejam causados pelo fumo direto. Um estudo de 2017 apontou que queimadas na Amazônia produzem fumaça capaz de danificar as células pulmonares e causar câncer; a alta poluição das cidades também causa preocupação por seu perigo à saúde do pulmão.
É importante lembrar que a maioria dos pacientes de câncer de pulmão continuam sendo os fumantes. Mas mesmo as pequenas porcentagens têm um impacto: apenas 0,2% das mulheres não fumantes no Reino Unido foram diagnosticadas com câncer de pulmão, mas isso se refere a 1.469 mulheres que nunca fumaram sofrendo da doença.
Cânceres de pulmão relativos e não relativos ao fumo são muito diferentes. Diferentes genes são mudados ou entram em mutação em cada caso. Para os não fumantes, o câncer geralmente é causado por mudanças no gene EGFR – que pode ser combatido com novas e eficazes drogas.
Causa do câncer
Em geral, os cânceres se desenvolvem quando dão errado os processos normais que nos mantêm saudáveis e vivos ao criar novas células. Químicos cancerígenos, luz ultravioleta e vírus podem danificar o DNA nas células, causando um problema cancerígeno. Mas em muitos casos não há um risco externo identificável – e pode ser esse o caso para alguns não fumantes que têm câncer de pulmão.
Mas além dos carvões e carburantes de cozinha, há outros fatores, como gás de radônio ou amianto, o que pode aumentar a probabilidade de câncer de pulmão.
Há também temores – e manchetes – sobre poluição do ar, que foi listada como um carcinógeno pela Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer em 2013. O órgão estimou que 223 mil mortes anuais de câncer de pulmão podem ser atribuídas a minúsculas partículas originárias de descargas de diesel e construção chamadas PM2.5. Mais da metade dessas mortes ocorreram na China e em outros países do Leste Asiático que passaram por uma rápida industrialização.