Saiba por que o coronavírus avança em Israel após o país liderar a vacinação global
Fabricia Albuquerque
Israel foi um dos primeiros países a implementar um programa abrangente de vacinação contra a covid-19, tornando-se exemplo para o restante do mundo.
No fim de fevereiro, pelo menos 50% da população já havia tomado pelo menos uma dose da vacina. Segundo a plataforma Our World in Data, cerca de 63% da população israelense está totalmente imunizada.
O país praticamente voltou à vida normal no início de junho. Na época com poucos casos de covid-19, parecia que a batalha contra o vírus havia sido vencida.
No entanto, a partir de julho, as infecções começaram a aumentar novamente e, no início deste mês, Israel passou a registrar mais de 10 mil novos casos da doença por dia.
A resposta das autoridades foi um programa de vacinação de reforço inicialmente oferecido para aqueles com mais de 60 anos, mas que acabou estendido a grupos populacionais cada vez mais jovens.
E, num desdobramento mais recente, Israel se prepara para garantir que vacinas suficientes caso uma quarta rodada de imunização contra a covid-19 seja necessária, disse em 12 de setembro Nachman Ash, diretor-geral do Ministério da Saúde, principal autoridade de saúde do país.
O recente aumento de casos (variando entre 7 mil a 10 mil novos casos por dia, segundo a média móvel do país) gerou debate sobre o futuro do programa de vacinação de Israel e pode trazer lições importantes para o restante do mundo, de acordo com Rachel Schraer, repórter de saúde da BBC.
Não vacinados
Uma parte importante do problema em Israel tem sido a cobertura de vacinação, na visão de Micheal Head, pesquisador de saúde global da Universidade de Southampton, na Inglaterra.
Depois de seu início rápido, o programa de vacinação desacelerou, diz Head em artigo recente.
“Não houve interrupções claras no fornecimento de vacinas, então fatores como hesitação ou acesso a cuidados médicos podem ter sido um problema”, diz o pesquisador. “Por exemplo, há evidências de que a aceitação é menor entre grupos árabes e judeus ultraortodoxos.”
A proporção da população que recebeu pelo menos uma dose da vacina aumentou de 50% em fevereiro para apenas 68% em setembro. Crianças de 12 a 15 anos foram incluídas no programa de vacinação em junho de 2021.
Com cerca de 30% de sua população não vacinada, Israel tem cerca de 2,7 milhões de habitantes que são potencialmente suscetíveis a infecções e doenças, lembra Head.
Mas, apesar disso, há alguns meses, o nível de cobertura parecia ser suficiente para controlar os casos. Então, o que mudou?
Imunidade diminuindo
A variante delta, mais infecciosa, parece ter tido um papel no recrudescimento dos casos, afetando o nível de proteção da vacina.
Apesar disso, é sabido que o imunizante continua altamente eficaz contra a forma mais grave da doença.
Os cientistas que monitoram os dados acreditam que um fator importante no recente aumento de casos em Israel é a queda da imunidade gerada pela vacina da Pfizer, inicialmente o único imunizante administrado no país, segundo Schraer.
Alguns cientistas apontam que a diminuição da imunidade gerada pela vacina é uma das causas do avanço onda de covid-19.
Apesar dessa queda, a vacinação ainda previne um número significativo de casos graves.
Em média, os não vacinados acima de 60 anos têm nove vezes mais chances de ficarem gravemente doentes do que os vacinados. Já entre os jovens, essa taxa é duas vezes maior, lembra Schraer.
Medidas restritivas
Para Head, outro fator importante é a rapidez com que Israel interrompeu as medidas restritivas para controlar a pandemia.
Ele cita Asher Salmon, diretor do Departamento de Relações Internacionais do Ministério da Saúde, que sugeriu em julho que Israel “talvez tenha suspendido as restrições muito cedo”.
Para Head, o caso de Israel é “o mais recente de uma longa lista de exemplos que mostram como a transmissão comunitária da covid-19 é facilitada quando a política nacional encoraja a mistura de pessoas suscetíveis com pouca ou nenhuma restrição”.
Terceira dose
Israel respondeu ao recente aumento de casos implementando um programa de reforço de vacinação. Primeiro, uma terceira dose foi oferecida aos maiores de 60 anos, mas depois gradualmente estendida para grupos populacionais mais jovens.
Em 29 de agosto, as autoridades israelenses anunciaram que a terceira dose está disponível para qualquer pessoa com 12 anos de idade ou mais que tenha recebido a segunda dose pelo menos cinco meses antes.
A terceira dose “está desacelerando a onda delta”, diz o professor Segal.