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Saiba qual será o impacto do atentado contra Bolsonaro na corrida eleitoral

O nível de confiança da pesquisa de intenção de votos é de 95%. (Foto: Elza Fiúza/ABr)

O ataque ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) – esfaqueado na quinta-feira (6) durante um ato de campanha em Minas Gerais – joga ainda mais incerteza sobre uma corrida eleitoral que já estava bastante indefinida. Uma análise inicial do episódio, porém, indica que o Bolsonaro tende a ser beneficiado eleitoralmente pelo atentado, enquanto o concorrente do PSDB, Geraldo Alckmin, que disputa diretamente com ele o voto mais conservador, é o que deve enfrentar mais dificuldades no novo cenário.

Bolsonaro foi transferido na sexta-feira (7) para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e está com quadro estável, mas sem previsão de alta. Seu filho, Flavio Bolsonaro, disse que o pai não deve mais realizar campanha nas ruas.

Para analistas políticos ouvidos, o ataque não deve gerar uma disparada nas intenções de voto ao candidato do PSL, mas tem potencial para, ao menos, consolidar o apoio que ele já conquistou, o que aumenta suas chances de ir ao segundo turno.

Com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, declarado inelegível pela Justiça, Bolsonaro aparece em primeiro lugar nas sondagens eleitorais. A última pesquisa Ibope lhe dá 22%, dez pontos percentuais acima de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), ambos empatados na segunda colocação com 12%. Logo atrás vem Alckmin, com 9%.

O provável substituto de Lula como candidato do PT, Fernando Haddad, aparece com 6% – ele deve ser confirmado na cabeça de chapa petista até terça-feira (11). A pesquisa, realizada no fim de semana passado, tem margem de erro de dois pontos percentuais.

“Efeito de mídia”

Havia uma expectativa entre cientistas políticos de que, após o início da propaganda eleitoral em rádio e televisão no final de agosto, Bolsonaro, que tem direito a pouquíssimo tempo, começaria a perder votos, enquanto Alckmin, dono do maior espaço de propaganda, se tornaria mais conhecido e começaria a subir na preferência do eleitorado.

No entanto, após ter sido vítima de uma facada, Bolsonaro deve ser beneficiado por uma mistura do que analistas chamam de “efeito tragédia” e “efeito de mídia”, em que há uma intensa cobertura da imprensa, com viés positivo, já que ele foi vítima de um ataque. Além disso, ele agora terá uma justificativa legítima para não comparecer aos debates com outros candidatos, onde tem sido alvo preferencial dos adversários.

“Bolsonaro receberá uma exposição intensa nos próximos dez dias, que não teria sem esse ataque, numa cobertura que vai suavizar sua imagem de agressividade, pois aparecerá numa posição de fragilidade. Não vai perder votos e pode ser até que suba um pouco”, acredita o cientista político Jairo Pimentel Jr., pesquisador da FGV.

A socióloga Esther Solano, professora Universidade Federal de São Paulo que vem estudando de perto seguidores do Bolsonaro, também acredita que o ataque deve consolidar o eleitorado que o candidato já construiu. O episódio, diz, reforça entre seus apoiadores a leitura de que “o cidadão de bem está desprotegido” e que é preciso ser duro no combate a violência, uma das principais propostas do candidato.

“Mas não acredito que isso vai ajudar a conquistar muitos votos de indecisos, pois esse grupo mais moderado pode entender, com esse ataque, que o discurso agressivo na verdade estimula atos violentos”, pondera.

O analista político Alberto Almeida, que vem afirmando desde o ano passado que o cenário mais provável nessa eleição seria novamente um segundo turno entre PT e PSDB, reconhece que o atentado aumenta as chances de Bolsonaro.

“O eleitor que está apoiando Bolsonaro tradicionalmente votava no PSDB. Para Alckmin crescer nas pesquisas, Bolsonaro tem que cair. Esse ataque realmente dificultou a vida do tucano”, constata o analista político Alberto Almeida, autor do livro “A cabeça do brasileiro”.

Por outro lado, Marina, Ciro e Haddad têm, por sua trajetória política, mais espaço para crescer disputando os votos da esquerda. Para os analistas entrevistados, o atentado poderia atrapalhar a transferência de votos de Lula para Haddad caso o autor do ataque fosse um militante claramente ligado ao PT. As primeiras informações apuradas pela Polícia Federal, no entanto, não indicam qualquer conexão do suspeito com o partido.

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