A proximidade entre o presidente Jair Bolsonaro e o advogado Frederick Wassef começou em 2014, pouco depois da campanha eleitoral daquele ano — naquela disputa, Bolsonaro foi eleito deputado federal com a maior votação do Rio de Janeiro. Em entrevista ao programa Em Foco com Andréia Sadi em abril de 2020, Wassef lembrou como se deu a aproximação.
“Foi no ano de 2014, eu estava me recuperando de um grave problema de saúde no hospital e eu vi o discurso dele [Bolsonaro]. Um discurso absolutamente pró-Brasil, pró-vítima, pró-sociedade, pró-família, pró-combate à pobreza, geração de empregos […]. Aí, houve uma identificação imediata […]. Ele tinha a coragem de falar pautas polêmicas…”, afirmou.
Questionado especificamente sobre controle de natalidade, um dos temas que teriam motivado a admiração por Bolsonaro, Wassef respondeu: “Planejamento familiar é absolutamente necessário. Porque é impossível a geração de empregos, vaga na escola, em creche, educação – tudo – na mesma medida em que cada pessoa humilde está fazendo dez, 15 filhos… Essa conta não fecha. E Bolsonaro já falava isso naquele tempo. Como ele falava inúmeras outras cosias, relacionadas principalmente à segurança pública”.
Foi Wassef quem procurou o então parlamentar, a quem telefonou para expressar admiração. Na ocasião, afirmou que já havia visto vídeos de Bolsonaro em redes sociais e demonstrou alinhamento com ideias que seriam defendidas na campanha do futuro presidente — questões como armamento, família e combate à corrupção, por exemplo.
A partir dali, a relação entre os dois se estreitou, e o advogado tornou-se um dos principais conselheiros de Jair Bolsonaro. Aproximou-se também dos filhos do presidente. “Eu estou no dia a dia aqui com o presidente e com a família Bolsonaro. Eu conheço tudo que tramita na família Bolsonaro”, afirmou Wassaf em 28 de abril de 2020, em entrevista à Rádio Gaúcha.
Pertence a Wassef o imóvel em Atibaia (SP) foi preso nesta quinta (18) o policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). O advogado, entretanto, mora em Brasília.
À Polícia Civil, um caseiro que estava no imóvel afirmou que Queiroz estava no imóvel havia mais de um ano. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo disse que o imóvel era um escritório de advocacia de fachada.
Wassef é frenquentemente visto no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente Jair Bolsonaro. Na quarta-feira (17), esteve no Planalto na cerimônia de posse do deputado Fábio Faria como ministro das Comunicações.
Atuação
Em 2018, Wassef disse que atuou como advogado de Bolsonaro no caso da facada desferida por Adélio Bispo de Oliveira contra o então candidato à Presidência, em setembro daquele ano, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG).
O nome de Wassef não aparece, contudo, no acompanhamento processual – do qual constam as defesas.
Wassef também saiu em defesa do presidente Bolsonaro no caso do porteiro que deu depoimento contestado sobre os suspeitos de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
O advogado também diz que atuou como uma espécie de consultor jurídico de Bolsonaro no caso da deputada Maria do Rosário. O presidente foi condenado a se retratar e pagar R$ 10 mil de indenização por danos morais à parlamentar por ter afirmado, em 2014, que ela não merecia ser estuprada por considerá-la “muito feia” e porque ela não fazia o “tipo” dele.
Em 2019, Wassef passou a atuar como advogado do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, na investigação que apura movimentações suspeitas nas contas do parlamentar.
Flávio é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete no período em que foi deputado da Assembleia Legislativa do estado (Alerj). Ele nega as acusações. Entre 2003 e 2018, Flávio cumpriu quatro mandatos parlamentares consecutivos.
A investigação também envolve o PM aposentado Fabrício Queiroz, que trabalhou como assessor de Flávio. Apontado pelo MP como operador do esquema, ele empregava funcionários fantasmas e exigia parte do salário (ou mesmo a integralidade dele) de volta.
Desde que o caso veio à tona, o paradeiro de Queiroz era desconhecido. Ele foi encontrado e preso na manhã desta quinta-feira (18) em uma operação da Polícia Federal (PF) na cidade de Atibaia (SP).
Em entrevista ao programa Em Foco com Andréia Sadi em abril de 2020, Wassef disse que não sabia do paradeiro de Queiroz e que não advogava para ele.
“Então, vamos lá. É importante lembrarmos que não existe a frase o sumiço do Fabrício Queiroz, isso não corresponde à realidade real”, disse Wassef a Sadi, que sem seguida questiona onde o ex-assessor estaria. “Fabrício? Eu não sei, eu não sou advogado dele”, respondeu Wassef.
