Um estudo feito com 46 mil mulheres e publicado no mês de dezembro, nos Estados Unidos, apontou uma relação entre o uso de química para pintar ou alisar o cabelo com o câncer de mama.
Isso acontece porque, muitos produtos capilares contêm compostos desreguladores e agentes cancerígenos potencialmente relevantes. Os produtos usados predominantemente por mulheres negras podem conter mais compostos hormonalmente ativos, como também explica a dermatologista titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Adriana Gutstein.
“Há algum tempo os dermatologistas já estão atentos aos riscos de substâncias presentes (em porcentagens não recomendáveis) nas tinturas de cabelos, como a parafenilenodiamina (ppd). Estas substâncias químicas e outras utilizadas em alisamentos capilares permanentes ou semi permanentes, contém desreguladores hormonais e substâncias carcinógenas que podem estar relacionadas ao câncer de mama. Estudos mais recentes vêm reforçando a preocupação com esse risco, que vem sendo descrito como mais alto em mulheres negras, provavelmente porque neste caso, os produtos para alisamento capilar podem conter produtos químicos de maior poder carcinogênico, como o formaldeído“, explica a médica.
Câncer de mama e as tinturas
O estudo publicado no último dia 3 de dezembro no International Journal of Cancer, chamado de “Sister Study” envolveu 46 mil mulheres americanas entre 35-74 anos, sem diagnóstico pessoal de câncer de mama, mas com história familiar (no caso uma irmã), examinou a associação entre tinturas e alisadores e o risco de câncer de mama, conforme a raça.
Questionários sobre o uso de produtos de cabelo nos 12 meses anteriores a inclusão no estudo foram aplicados e após oito anos de acompanhamento médio, 2.794 casos de câncer de mama foram diagnosticados. Cerca de 55% das mulheres relataram o uso de tintura permanente e o risco de câncer de mama. Nestas mulheres, foi 45% maior entre mulheres negras (HR = 1.45, 95% CI: 1.10–1.90), e 7% maior para as brancas (HR = 1.07, 95% CI: 0.99–1.16; p = 0.04).
Entre todas as participantes, o uso de alisadores aumentou o risco em 18% (HR = 1.18, 95% CI 0.99–1.41); sendo ainda maior (30%) para as usuárias frequentes (p= 0.02), aquelas que usam a cada 5-8 semanas.
O estudo conseguiu inclusive demonstrar que a aplicação de tintura não-profissional e de alisadores “caseiros” aumentou o risco em 28% (HR = 1.28, 95% CI 1.05–1.56) and e 27% respectivamente (HR = 1.27, 95% CI 0.99–1.62).