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Sean Lennon e gravadora excluem de projeto de reedição uma faixa de Lennon e Yoko que usa termo preconceituoso

John Lennon e Yoko Ono. Sean Lennon lança em breve o quinto produto da coleção iniciada pela mãe. (Foto: Reprodução)

Continuando seu trabalho à frente dos boxes de luxo dedicados a cada um dos álbuns solo de John Lennon, o produtor e músico Sean Lennon lança em breve o quinto produto da coleção iniciada pela mãe Yoko Ono: Power to the People, que chega com uma ausência marcante entre suas faixas.

Quando Sean assumiu o legado dos pais em 2022, já era hora de celebrar os 50 anos de Some Time in New York City, álbum mal gravado ou mal mixado entre o final de 1971 e o início de 1972. Na abertura, vinha uma canção antissexista, Woman Is the Nigger of the World. A frase, “a mulher é o negro do mundo”, usa uma palavra que é considerada ofensiva nos EUA.

A caixa prometia em termos de conteúdo, pois além de uma merecida remixagem, o material bônus da agitada fase 71/72 dispunha de muitos registros de áudio e vídeo, como os dois shows beneficentes One To One que John & Yoko fizeram no Madison Square Garden em 1972. Essas gravações eram problemáticas desde os anos 1980, quando a edição mal mixada e editada frustrou os fãs.

Sean resolveu primeiro focar no box Mind Games, o mais arrojado da série, lançado no segundo semestre de 2024, e vencedor do Grammy.

Enquanto isso, era produzido o documentário One To One: John & Yoko sobre aquela conturbada fase inicial no Village. Sean Lennon cuidou da parte musical do filme e isso o fez encarar de frente os registros dos dois shows no Madison Square Garden.

A Universal, porém, propôs a Sean que removesse a música Woman Is the Nigger of the World da reedição. O box foi rebatizado de Power to the People e Some Time in New York City, tratado como bônus. Fãs mundo afora foram protestar nas redes contra o que definiram como censura.

O Estadão pediu a opinião de Caetano Veloso, que estava com Gilberto Gil no show de Londres em 1969, e de Nando Reis, que em 1999 recomendou a Cássia Eller que gravasse a canção. “Sou contra esse cancelamento ridículo”, diz Caetano. “Não há nenhuma palavra em português brasileiro que seja ofensiva aos negros. ‘Meu nego’ é carinhoso, ‘neguinho’ é amoroso. Mas se os que cancelam ‘nigger’ falam inglês e são os donos do mundo, o que fazer?”, conclui.

Nando Reis recorda ter enviado, em suas cartas a Cássia Eller, a letra da música cifrada, com um desenho. “Acho uma bobagem, a música não deixa de existir e isso é simplesmente para evitar controvérsia e vender, né?”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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