A vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial foi confirmada há três dias e, até agora, não há sinais de que Donald Trump pretenda reconhecer a derrota, elevando a tensão política nos Estados Unidos. O presidente e a maior parte da cúpula do seu Partido Republicano alegam falsamente, sem apresentar quaisquer provas, que houve fraudes na contagem dos votos nos estados.
Nesta terça, em entrevista coletiva, o secretário de Estado, Mike Pompeo, se tornou a pessoa com mais alto cargo, além de Trump, a pôr em dúvida a vitória do democrata, dizendo que haverá um segundo mandato do republicano. Quando questionado por um repórter se o bloqueio do presidente a uma transição para um governo Biden não atrapalharia a transferência do poder e poria em risco a segurança nacional, Pompeo respondeu:
“Haverá uma transição tranquila para um segundo governo Trump”, disse o chefe da diplomacia americana, com um leve sorriso, antes de completar de forma mais dúbia: “Estamos prontos. O mundo está assistindo ao que está acontecendo. Vamos contar todos os votos e, quando o processo estiver encerrado, teremos um vencedor. O mundo deve ter confiança de que a transição necessária para que o Departamento de Estado continue funcionando bem também será bem-sucedida com o presidente que tomará posse em 20 de janeiro.”
Biden, em resposta, disse que nada deterá a transição do poder e que a recusa do governo Trump a reconhecer sua vitória não terá consequências maiores.
A grande maioria dos líderes internacionais já cumprimentou Biden pela vitória. Nesta terça, ele falou com o francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel.
A tensão política cresceu na noite de segunda-feira, após o Departamento de Justiça autorizar inquéritos federais para apurar supostas fraudes eleitorais denunciadas pelo presidente, mesmo sem quaisquer provas de sua existência.
A decisão de William Barr, o secretário de Justiça, gerou repúdio no seu próprio departamento. O diretor do braço responsável por crimes eleitorais, Richard Pulge, pediu demissão e, em um e-mail a colegas, afirmou que a conduta do secretário “revoga uma política de não interferência de 49 anos para investigações de fraudes eleitorais”, que são apuradas primeiro pelos tribunais estaduais.
Enquanto a alta cúpula republicana no Congresso apoia a cruzada jurídica do presidente, outros grupos dentro do partido começam a repudiar a conduta de Trump e de Barr. Quatro ex-secretários de Segurança Interna dos governos de George W. Bush e Barack Obama assinaram um comunicado afirmando que as eleições foram justas e que as tentativas de Trump de questionar o resultado não devem impedir a transição.
Em outro comunicado, ex-funcionários do Departamento de Justiça, entre eles o ex-conselheiro de Segurança Nacional de George W. Bush, Ken Wainstein, lembraram que “os eleitores decidem a eleição, não o secretário de Justiça”.
“Não vimos absolutamente quaisquer evidências de nada que possa impedir a certificação dos resultados, que é algo que cabe aos estados, não ao governo federal”, afirmaram. “O povo americano falou claramente, e agora o país precisa se mover em direção a uma transição pacífica de poder.”
No entanto, a agência responsável por liberar as verbas para que a transição de governo possa começar oficialmente não o fez, e Trump bloqueou qualquer contato dos órgãos do governo com a equipe do presidente eleito. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.
