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Sem evidências, Donald Trump promete vacina para o coronavírus ainda neste ano

A sanção dá mais uma ferramenta para Trump ameaçar Pequim antes de deixar a presidência no próximo mês.  (Foto: Tia Dufour/The White House)

Ao encerrar a Convenção Republicana, na noite de quinta-feira (27), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a prometer que uma vacina contra a covid-19 será desenvolvida até o fim deste ano, “ou talvez antes”. Assim como parte significativa de sua retórica de campanha, no entanto, a palavra do presidente vai na contramão das evidências.

“Nós estamos realizando tratamentos que salvam vidas, e produziremos uma vacina segura e eficaz até o fim do ano, ou talvez antes”, disse o presidente, criticado nacional e internacionalmente por sua resposta à pandemia.

Com quase 6 milhões de casos e mais de 180 mil mortes, segundo a Universidade Johns Hopkins, os Estados Unidos são o país mais afetado pelo novo coronavírus. Sozinhos, são responsáveis por 23% dos diagnósticos confirmados e 21% dos óbitos no planeta.

Em plena campanha de reeleição e atrás nas pesquisas, Trump já havia dito que os EUA poderiam ter uma vacina antes do pleito do dia 3 de novembro e que isso “não prejudicaria” suas chances nas urnas. Por mais que isso seja possível se a FDA, a Anvisa americana, emitir uma autorização de emergência, é uma possibilidade que parece distante.

Avais deste tipo, que permitem o uso de produtos médicos sem passar por todas as etapas de comprovação, vêm sendo adotados para testes para o coronavírus e alguns tratamentos. No último domingo (23), por exemplo, o uso de plasma de pacientes recuperados recebeu uma aprovação de urgência como possível tratamento.

Vacinas, no entanto, demandam comprovações mais contundentes que tratamentos emergenciais para pessoas que correm risco de vida. Uma autorização de emergência poderia cortar algumas semanas do processo, mas ainda assim demandaria extensa comprovação de sua eficácia.

Até o momento, nenhum laboratório completou os testes clínicos necessários para uma vacina. A AstraZeneca, que trabalha em conjunto com a Universidade Oxford, e a Pfizer, ao lado da BioNTech, dizem que podem ter dados importantes já em outubro. A Moderna espera ter os números em novembro ou dezembro.

Especialistas temem que Trump pressione a FDA a aprovar emergencialmente uma vacina sem que haja comprovações necessárias. No sábado (22), por exemplo, o presidente americano acusou — sem provas — elementos do “Estado profundo” de propositalmente reter vacinas e tratamentos para prejudicar suas chances eleitorais.

A agência nega as acusações e Peter Marks, um dos principais responsáveis pela revisão do processo, disse que pediria demissão caso se sentisse pressionado a aprovar uma vacina antes que ela estivesse pronta.

O discurso de Trump, que formalizou sua candidatura à reeleição, foi marcado por críticas ao seu oponente democrata, Joe Biden — caracterizado como um extremista de esquerda (o ex-vice-presidente, na realidade, é centrista), e pela sua exaltação como o “salvador” do estilo de vida americano.

O presidente falou diretamente do gramado da Casa Branca, onde mais de mil pessoas se aglomeraram, quase todas sem máscara, desrespeitando as diretrizes de segurança. A reunião de mais de 50 pessoas é proibida na capital americana, mas como a sede do governo trata-se de um espaço federal, a convenção pôde acontecer.

O cenário do evento, por si só, também levantou críticas: utilizar a sede do governo americano, prédio custeado pelo dinheiro do contribuinte, para um ato de campanha é, para muitos, algo ilegal.

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