Ícone do site Jornal O Sul

Senado pode derrubar ajuste fiscal proposto pelo governo se Dilma negar mudança na aposentadoria do INSS

Durante votação da MP 665, que acabou adiada, Calheiros pediu que as galerias da Casa fossem esvaziadas. (Foto: Ed Ferreira/AE)

Em um recado ao Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse nessa quarta-feira que o governo corre o risco de sair derrotado nas votações do ajuste fiscal no Congresso com a sinalização da presidenta Dilma Rousseff de que deve vetar as mudanças na aposentadoria aprovadas na Câmara dos Deputados. Renan afirmou que a MP 665 (medida provisória) do ajuste, que tinha votação prevista para essa quarta-feira pelo Senado e foi adiada, poderia sofrer impactos da ameaça de veto. “Esse processo de formação das maiorias é muito complicado no Brasil. A gente nunca sabe direito o que é que vai acontecer. Tem que aguardar”, afirmou ao ser questionado se a sinalização de Dilma poderia afetar a votação das MPs.

Alguns senadores ameaçam barrar as duas MPs do ajuste fiscal caso o governo não dê sinais de que vai manter a implantação da fórmula 85/95 na aposentadoria por tempo de contribuição. A medida, aprovada na Câmara como emenda à MP 664, garante benefício integral, sem o corte do fator previdenciário, sempre que a idade do segurado e seu tempo de contribuição der, no momento da aposentadoria, 85 para a mulher, e 95 para o homem. A MP 665, que estava na pauta dessa quarta-feira do Senado, impõe mudanças no seguro-desemprego e no abono salarial. A outra medida provisória, a 664, deve ser analisada na semana que vem pelos senadores. Técnicos do governo calculam que os gastos da Previdência podem subir 40 bilhões de reais nos próximos dez anos com a mudança oferecida pela Câmara dos Deputados.

Nova fórmula
O governo quer uma proposta alternativa, combinando o fator 85/95 com uma escala móvel, levando em conta a expectativa de sobrevida do brasileiro. Ou seja, a soma de idade e tempo de contribuição subiria ao longo do tempo e não seria estática, como na fórmula aprovada na semana passada pela Câmara. A ideia do Planalto é vetar a emenda feita na MP 664 e encaminhar projeto ao Congresso com a nova fórmula, mas a solução não agrada aos congressistas.

Desunião
Nem o PT, partido da presidenta, pretende votar de forma unida em favor da MP. Os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA) votarão pela mudança. Paim também ameaça ir contra a outra MP do ajuste caso Dilma insista na versão do veto à mudança no cálculo das aposentadorias.

Principal alteração
A MP 665 traz como principal alteração o aumento do tempo de trabalho para que a pessoa requeira pela primeira vez o seguro-desemprego: de seis para 12 meses. O governo queria originalmente 18 meses, mas foi obrigado a recuar. A MP também endurece a regra para concessão do abono salarial. Até então, a exigência do tempo mínimo trabalhado para ter acesso ao benefício era de um mês. O governo queria ampliar para seis, mas o Congresso reduziu para três. Sobre o seguro-defeso – benefício concedido a pescadores no período de restrição à pesca –, o governo também queria dificultar o acesso, mas o Congresso impediu a tentativa.

Esvaziamento
Calheiros mandou, nessa quarta-feira, esvaziar as galerias do plenário da Casa após integrantes da FS (Força Sindical) jogarem notas falsas de dinheiro durante a sessão destinada à votação da MP 665. Enquanto o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), falava, os sindicalistas começaram a vaiar o petista. Costa criticou a oposição e disse que, se estivessem governando o País, “hoje estariam defendendo boa parte dessas políticas”.

Medo de vaia
“Não tenho medo de vaias”, disse o petista. “Não tenho medo de vaia, nem o governo tem medo de vaia, nem o PT tem medo de vaia.” Logo após as primeiras vaias, o presidente do Senado pediu silêncio aos manifestantes para que não se prejudicassem os trabalhos.

Depois de Costa concluir seu discurso, os sindicalistas voltaram a vaiar e jogaram notas falsas no plenário. “Eu peço para a Secretaria-Geral da Mesa para esvaziar as galerias”, gritou o presidente do Senado. Durante a votação da MP 665 na Câmara, integrantes da FS já haviam protestado. Naquela oportunidade, eles foram retirados das galerias pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

(Folhapress e AG)

Sair da versão mobile