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Será investigada a delegada que pediu a prisão de ex-reitor da Universidade de Santa Catarina que depois se suicidou

Foi aberta uma sindicância sobre a morte de Luiz Carlos Cancellier. (Foto: Divulgação)

A Corregedoria-Geral da PF (Polícia Federal) decidiu abrir sindicância para apurar supostos abusos na delegada Érika Marena que teriam levado o ex-reitor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Luiz Carlos Cancellier ao suicídio logo na primeira fase da Operação Ouvidos Moucos. O ex-reitor se matou ao pular no vão central do shopping Beiramar, em Florianópolis na manhã de 2 de outubro, 19 dias depois de ter sido preso e afastado da reitoria da universidade. Num bilhete de despedida, Cancellier escreveu “minha morte foi decretada quando fui banido da universidade”.

A investigação foi aberta a partir de uma iniciativa do ministro da Justiça, Torquato Jardim. O ministro acionou à Corregedoria-Geral depois de receber denúncia de familiares do ex-reitor contra a delegada. Cancellier e mais outros seis colegas de universidade foram presos no dia 14 de setembro por suposta tentativa de atrapalhar investigação sobre desvio de dinheiro de cursos à distância oferecidos pelo programa Universidade Aberta no Brasil na UFSC. O ex-reitor foi preso a partir de um pedido formulado por Érika Marena.

O ex-reitor foi liberado no dia seguinte à prisão. Mas, também a pedido da delegada, foi afastado da reitoria e proibido de frequentar a universidade. Quatro dias antes do suicídio, Cancellier escreveu um artigo para o jornal “O Globo” em que fala sobre o tormento na cadeia. Logo depois de ter sido detido, ele foi levado para o Complexo Penitenciária Agronômica, presídio que abriga os presos mais perigosos do estado. “A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição”, afirmou.

Cancelier era investigado por suposta tentativa de atrapalhar as investigações. Não havia indícios de envolvimento dele nos supostos desvios de recursos do programa. O ex-reitor teria sido incluído na lista de investigado a partir de uma denúncia do corregedor da universidade, Rodolfo Hickel do Prado, arquirrival de Cancellier. Mesmo sem dados materiais para amparar as suspeitas levantadas pelo adversário, a delegada pediu a prisão do ex-reitor.

Familiares de Cancellier reclamaram também do forte aparato policial montado na operação. Mais de 100 policiais teriam sido mobilizados para prender seis professores. No dia das prisões, a polícia teria divulgado também que a investigação tinha como foco desvios da ordem de R$ 80 milhões. Mais tarde a informação foi corrigida. Na verdade, a cifra corresponderia a todo o montante repassado para o programa de cursos à distância e não aos valores desviados.

Até semana passada, a direção-geral da Polícia Federal vinha cogitando promover a delegada a superintendente da PF. Mas, com a abertura da sindicância, a nomeação foi suspensa. A promoção só será confirmada se, ao final da apuração, se comprovar que não houve excessos da parte dela. As investigações serão conduzidas pelo delegado mais antigo da corregedoria da PF em Santa Catarina. A sindicância é uma apuração preliminar que pode resultar em punição administrativa ou, em caso mais grave, na abertura de inquérito criminal.

Erika fez parte da equipe de delegados que iniciou e conduziu boa parte da Operação Lava-Jato, em Curitiba. No filme “Polícia Federal, a lei é para todos” ela tem participação de destaque num papel interpretado pela atriz Flávia Alessandra. Procurada, ela não foi localizada. Segundo a PF em Santa Catarina Érika está em viagem a serviço. Um dos auxiliares da delegada disse que ela foi orientada a não dar entrevista.

 

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