Uma sugestão feita na semana passada pelo administrador interino da Nasa, Sean Duffy, de que a SpaceX poderia ser excluída dos próximos planos de pouso lunar da agência, abalou a indústria espacial. Agora, nos bastidores, propostas de caminhos alternativos para a superfície lunar começam a tomar forma discretamente.
Atualmente, a SpaceX possui um contrato de US$ 2,9 bilhões para preparar seu gigantesco sistema de foguetes Starship para transportar astronautas à superfície lunar como parte da missão Artemis III da Nasa. No entanto, citando atrasos no desenvolvimento da Starship e a pressão competitiva da China, a Nasa solicitou à SpaceX e à Blue Origin — que mantém um contrato separado de módulo lunar com a agência espacial — que apresentassem planos para acelerar o desenvolvimento de suas respectivas naves até 29 de outubro. Ambas as empresas responderam.
Mas a agência espacial também está pedindo à indústria espacial comercial em geral que detalhe como poderiam realizar a tarefa mais rapidamente, sugerindo que a liderança da Nasa está preparada para deixar de lado seus parceiros atuais.
A CNN conversou com meia dúzia de empresas sobre como planejam responder ao chamado da Nasa, que a agência emitirá formalmente assim que a paralisação do governo terminar, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.
Embora algumas das propostas potenciais pareçam mais diretas do que o atual plano de pouso lunar que utiliza a Starship, cada uma envolve a construção e teste de novos projetos de naves espaciais, um processo que normalmente leva pelo menos seis ou sete anos, observou Casey Drier, chefe de política espacial do grupo sem fins lucrativos Planetary Society.
Isso pode representar um problema para o cronograma da Nasa. A China pretende pousar seus astronautas na superfície lunar até 2030, e Duffy tem indicado repetidamente que vê a competição com a China como um imperativo de segurança nacional.
A Artemis III está atualmente programada para acontecer já em meados de 2027, e a Nasa sinalizou que o ritmo atual de desenvolvimento da Starship está ameaçando adiar essa meta em meses ou anos.
“Existe uma certa parte da Lua que todos sabem que é a melhor”, disse Duffy, referindo-se à região do polo sul lunar, ainda largamente inexplorada — o local de pouso previsto para os astronautas da Artemis III.
“Temos gelo lá. Temos luz solar lá. Queremos chegar lá primeiro e reivindicar isso para a América”, disse ele em agosto.
Especialistas que conversaram com a CNN para esta matéria disseram que reavaliar o contrato do módulo lunar da SpaceX poderia ser prudente.
Alguns argumentam que desenvolver uma nova espaçonave do zero, mesmo levando anos, ainda poderia ser mais rápido do que esperar pela Starship, que apresenta desafios de engenharia extremamente difíceis devido ao seu tamanho sem precedentes e design inovador.
Ainda assim, a SpaceX já cumpriu alguns requisitos que podem lhe dar uma vantagem significativa sobre a concorrência. No entanto, considerando as ambições lunares mais amplas da Nasa, especialistas afirmam que a verdadeira disputa vai muito além da velocidade.
Anunciada como o sistema de foguetes mais poderoso já construído, a Starship realizou 11 voos de teste suborbitais impressionantes, reacendendo motores no espaço, reutilizando propulsores e demonstrando a capacidade de implantar satélites durante o trajeto.
Em um comunicado publicado em seu site na quinta-feira, a SpaceX afirmou ter “concluído 49 marcos relacionados ao desenvolvimento dos subsistemas, infraestrutura e operações necessárias para pousar astronautas na Lua”. E a “grande maioria” de seus marcos contratuais de teste para a Nasa foram cumpridos dentro do cronograma, segundo a empresa.
A Nasa não respondeu imediatamente ao pedido de comentário sobre as afirmações da SpaceX.
A Starship também enfrentou contratempos significativos — particularmente neste ano. Nos primeiros seis meses de 2025, três veículos protótipos explodiram durante voos de teste e outro pegou fogo durante testes rotineiros em solo, causando danos à infraestrutura da SpaceX no Texas. Os problemas levaram especialistas em segurança nacional a expressar preocupações de que a SpaceX não entregará a Starship a tempo de realizar os objetivos da Nasa.
Segundo o plano atual, a Nasa lançaria seus astronautas na cápsula Orion no topo do foguete Space Launch System, ambos desenvolvidos pela agência espacial. Após atingir a órbita lunar, os astronautas se transfeririam para a Starship, que levaria duas pessoas até a superfície da Lua e depois as traria de volta à órbita lunar.
Mas a Starship provavelmente ainda está longe de ser capaz de realizar tal empreendimento. Até agora, a empresa só tentou realizar voos de teste suborbitais de uma hora com a Starship. Ainda não enviou um veículo para órbita em uma missão operacional, nem tentou reabastecer a Starship durante um voo — uma etapa que será necessária para missões lunares devido ao tamanho massivo e ao design da nave.
Ainda não está claro quantos voos de reabastecimento seriam necessários antes que a Starship possa realizar a missão Artemis III.
Conforme reportagem anterior da CNN, o número poderia variar entre 10 e 40. Além disso, a transferência de propelentes criogênicos, do tipo utilizado pelo Starship, nunca foi tentada antes com qualquer nave espacial.
“A SpaceX não conseguirá fazer isso funcionar antes de 2030”, afirmou Doug Loverro, ex-chefe de voos espaciais tripulados da Nasa, expressando uma opinião recentemente compartilhada por dois ex-administradores da agência espacial.
A empresa não forneceu detalhes sobre seu plano para acelerar o trabalho no contrato com a Nasa. A SpaceX não respondeu ao pedido de comentário da CNN, como é típico da empresa não responder a questionamentos de jornalistas. As informações são da CNN.
