A Quiron é considerada um exemplo moderno de empresa brasileira com selo ESG e em crescente expansão para a Europa e Estados Unidos a partir de Portugal. E não apenas pelo volume milionário de faturamento, mas pela responsabilidade social e inovação com o sistema desenvolvido para prevenção de incêndios e ameaças florestais com uso de inteligência artificial.
De startup em Lages, Santa Catarina, até acelerar como empresa internacional capaz de dar as cartas no mercado português, a Quiron levou pouco tempo. O projeto de expansão teve impulso em 2020, faturou US$ 100 mil (R$ 535 mil) no ano seguinte, saltou para US$ 1 milhão (R$ 5,3 milhões) este ano e tem previsão de arrecadar até US$ 3 milhões (R$ 16 milhões) em receitas em 2023.
Mas o que vende a Quiron? Precisão. Em um país onde este ano a área florestal queimada triplicou em relação a 2021 para 110 mil hectares devido aos 10 mil incêndios rurais de janeiro a outubro, a empresa brasileira informa antecipadamente e com 98% de acerto onde há perigo de a mata arder. É possível graças a um algoritmo com inteligência artificial baseado em imagens de satélite.
Para as prefeituras portuguesas que têm em seu território áreas remotas e povoadas, prever um incêndio significa salvar vidas e evitar a tragédia de 2017. Naquele ano, apenas em Pedrógrão Grande, morreram 64 pessoas, sendo 47 delas encurraladas na Estrada Nacional número 236 enquanto tentavam fugir. É estimado que o número de vítimas seja superior a uma centena em todo o país em 2017.
Municípios e empresas de fabricação e comercialização de papel são os principais clientes da Quiron em Portugal, explicou ao Portugal Giro o cofundador e diretor comercial Diogo Machado.
“O primeiro cliente pagante e de modo geral da empresa foi em Portugal, o município do Fundão, no final de 2020. Depois, ampliamos para Idanha a Nova, Belmonte e outras cidades, além de empresas como a The Navigator Company e Sonae Arauco (painéis de madeira). Abrimos unidade em Portugal e temos clientes e projetos em sete países, como Grécia, Marrocos e Espanha. Atualmente, 70% do faturamento vem de fora do Brasil, mas Portugal representa 30% do faturamento total”, revelou Machado.
A partir de Portugal, a Quiron planeja crescer na Península Ibérica, ampliando operações na Espanha, além de estabelecer negócios nos Estados Unidos. E fechou contrato para proteger uma área que inclui importante patrimônio português em Sintra.
“Vamos fazer a previsão de incêndios desta importante área de Sintra, que envolve o Palácio Nacional da Pena e o Castelo dos Mouros, uma honra”, disse Machado.
A Quiron começou a trilhar um caminho que deverá ser seguido por startups brasileiras que queiram captar com sucesso recursos em Portugal. O carimbo ESG (governança ambiental, social e corporativa) abriu portas para financiamento na Europa e chamou atenção do setor especializado. No cenário de possível recessão e dinheiro escasso, expandir sem turbulências exige alinhamento com os três eixos.
A empresa foi uma das 200 selecionadas pelo site especializado TechCrunch como uma das mais inovadoras do mundo. E também participou do programa de TV norte-americano Meet the Drapers, onde empreendedores tentam seduzir investidores.
Em Portugal, a Quiron encontrou no investidor Filipe Rosa um conselheiro há dois anos. Ele passou a sócio da empresa no Brasil e representante na Europa.
“Eles foram acelerados pelo Sebrae e receberam aporte de um fundo inglês que só investe em empresas com impacto social e voltadas para mitigar questões climáticas. É um “case” que deu certo, transformando o planeta e dando as cartas em Portugal (…) que em 2017 teve a área florestal mais ardida da Europa e precisa cada vez mais se modernizar com inteligência artificial e machine learning para evitar incêndios e outras pragas “, declarou Rosa.
