Sabonete, desodorante, loção hidratante. Temos contato com vários produtos cosméticos no dia a dia – e a lista aumenta para quem é fã de maquiagem.
No entanto, a não ser que você entenda muito de química, é difícil saber exatamente o que é cada um dos ingredientes naquele rótulo de xampu que você leu durante o banho.
A fórmula dos cosméticos e produtos de higiene pessoal que usamos não é – ou não deveria ser – a mesma hoje do que era há 50 anos. Muitos dos ingredientes que eram usados livremente no passado hoje são proibidos, já que ao longo do tempo foi se descobrindo que alguns fazem mal à saúde ou causam alergias e irritações.
A União Europeia tem uma lista de mais de 1,3 mil substâncias proibidas que é atualizada de acordo com as últimas análises sobre segurança de ingredientes – é preciso provar que uma substância não faz mal para que ela possa ser usada.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também tem uma lista extensa de substâncias controladas, baseada na legislação europeia, mas nem sempre ela incorpora os últimos avanços imediatamente.
Entenda as controvérsias sobre alguns tipos de substâncias encontradas em cosméticos no Brasil.
Ftalatos
Ftalatos são um tipo de substância muito usada para tornar plásticos mais maleáveis, segundo o farmacêutico Diogo Oliveira, pesquisador do Laboratório Innovare da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp.
Em cosméticos, eles costumam ser usados como agentes plastificante em esmaltes.
Na União Europeia, o uso intencional de ftalatos em cosméticos é banido pelo Comitê Científico para Segurança do Consumidor, comissão da UE que regula a produção de cosméticos. São aceitos apenas traços: quando a substância acaba migrando para o produto, em baixíssima concentração, por ter sido usada na embalagem.
Nos EUA, em 2003, pesquisadores do CDC (Centro de Controle de Doenças) descobriram que o público americano tinha alto nível de exposição à ftalatos.
Eles recomendaram que os efeitos da exposição à essa substâncias fossem estudados melhor, o que gerou uma série de pesquisas focadas em seu uso e publicadas nos últimos anos, incluindo um longo relatório encomendado pela Comissão para Segurança de Produtos para o Consumidor, dos EUA.
No Brasil, embora existam vários ftalatos na lista de substâncias proibidas em cosméticos da Anvisa, nem todos são vetados. O ftalato de dibutila, por exemplo, é autorizado em esmaltes em concentração de até 15% (e proibido em produtos voltados para crianças).
Formol
Os formaldeídos são um dos casos em que a legislação brasileira está em pé de igualdade com a internacional: eles são proibidos no Brasil – a Anvisa tem uma regulamentação rígida que permite seu uso apenas como conservante, em uma concentração máxima de 0,2%.
Na prática, no entanto, isso não impede que muitos fabricantes desrespeitem a legislação e coloquem no mercado produtos com concentração maior do que a permitida.
Em concentrações bem maiores do que a permitida, a substância promove alisamento em cabelo. O problema é que também tem outros efeitos: é considerado cancerígeno pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer).
Triclosan
A preocupação com doenças e a popularização de produtos antibacterianos – principalmente sabonetes de uso doméstico – levou a um efeito paradoxal. Segundo a FDA (a agência de regulação americana), uma série de pesquisas indicou que exposição prolongada a substâncias contidas nesses produtos pode gerar resistência bacteriana e alterações hormonais.
Além de preocupação com possíveis problemas para a saúde, também há um preocupação com a contaminação do ambiente com essa substância – que pode causar o surgimento de bactérias mais resistentes. Isso acontece porque o uso excessivo de agentes bactericidas e antibióticos mata as bactérias mais fracas, fazendo com que somente as mais fortes sobrevivam e se reproduzam.
No Brasil, a Anvisa permite uma concentração de até 0,3% de triclosan em produtos de higiene pessoal.
Parabenos
O conservante é um dos itens mais necessários em qualquer tipo de cosmético – de hidratante a batom, de creme e barbear à maquiagem de olho.
Conservantes são importantes pois sem eles os produtos podem ser contaminados por micro-organismos. Eles podem vir tanto da matéria-prima quanto do próprio consumidor: quando alguém coloca a mão em um creme ou aplica um batom na boca, está transferindo os contaminantes para o produto.
A principal controvérsia sobre a substância começou com uma pesquisa que encontrou uma molécula de parabeno dentro de uma célula de câncer – nada indicava que o parabeno havia causado a doença, mas isso foi suficiente para criar uma grande preocupação nos consumidores sobre o assunto.