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Tarcísio almoça com investidores em Nova York e adota tom de presidenciável

Roadshow NY: Governador de São Paulo apresenta oportunidades de investimento no Estado. (Foto: Vinícius Rosa/Governo de SP)

Em um almoço nesta semana em Nova York, cercado por CEOs e investidores que juntos representam uma fatia significativa do PIB brasileiro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, assumiu postura e discurso de quem almeja voos mais altos.

Tarcísio foi o principal orador na terça-feira, durante um evento promovido pelo Citibank no Museu de Arte Moderna (MoMA). Aos 49 anos, demonstrou fluência ao abordar a política fiscal brasileira e seus desafios – uma performance que, para muitos dos presentes, soou como uma estreia informal na corrida presidencial.

“Falei como um brasileiro”, disse Tarcísio à Bloomberg após o evento, que integrou a programação da Brazil Week em Nova York – tradicional encontro que reúne banqueiros, executivos e formuladores de políticas públicas para discutir as perspectivas econômicas do Brasil nos Estados Unidos.

Questionado sobre uma eventual candidatura ao Planalto em 2026, Tarcísio preferiu não responder. Ainda assim, o silêncio não foi suficiente para conter a crescente especulação de que ele pode ser o sucessor natural do ex-presidente Jair Bolsonaro – de quem foi ministro da Infraestrutura – e o nome preferido da elite empresarial para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com mais de uma dúzia de CEOs e diretores financeiros ouvidos pela Bloomberg, Tarcísio foi a figura central da Brazil Week em Nova York. Vários deles o descreveram como o único político com real capacidade de vencer o presidente Lula nas eleições de 2026.

O Brasil será um desastre ou um sucesso – depende de quem vencer a próxima disputa eleitoral, afirmou um CEO, sob condição de anonimato ao comentar questões políticas.

Durante sua passagem por Nova York, o governador de São Paulo participou de ao menos três eventos promovidos por grandes bancos. Segundo os relatos, mostrou-se acessível, seguro e confortável no papel de possível presidenciável.

Apesar de comandar o estado mais rico do país, Tarcísio concentrou boa parte de suas falas em temas de âmbito nacional. Demonstrou conhecimento detalhado do orçamento federal e alinhamento com pautas bem-vistas pelo mercado, como o reforço da disciplina fiscal.

“O papel da política, neste momento, é oferecer segurança e tranquilidade”, disse Tarcísio a um grupo de executivos que incluía de Marcos Antonio Molina dos Santos, presidente do conselho da BRF e da Marfrig, a Miguel Setas, CEO da Motiva. “E isso não é impossível – a Argentina estava numa situação muito pior, e veja o que está acontecendo lá agora”, afirmou, em referência às reformas econômicas do presidente Javier Milei.

Preferências do mercado

Investidores demonstram crescente expectativa em torno de Tarcísio, cuja trajetória marcada por privatizações e ajustes fiscais é vista como sinal de que ele poderia entregar uma agenda de reformas pró-mercado considerada essencial para estabilizar a maior economia da América Latina.

A abordagem de crescimento com aumento de gastos do atual governo tem gerado déficits sucessivos e uma escalada da dívida pública que preocupa o mercado. Além disso, a inflação segue acima da meta do Banco Central, o que forçou a autoridade monetária a elevar os juros ao maior patamar em quase duas décadas neste mês.

Lula, por sua vez, tem evitado novas medidas de austeridade após um pacote de cortes de gastos fracassar no ano passado, desencadeando uma disparada do dólar. A percepção generalizada foi de que os cortes de gastos foram insuficientes para melhorar as perspectivas fiscais do país.

Tarcísio não precisa anunciar oficialmente seus planos antes de abril de 2026, prazo em que teria de renunciar ao governo de São Paulo para concorrer à presidência. No entanto, três pessoas que estiveram com ele em reuniões privadas afirmam que ele deseja, sim, entrar na disputa. Por ora, ele evita alimentar a especulação publicamente.

Enquanto isso, Jair Bolsonaro não dá sinais de se afastar da cena política – e chegou a ameaçar fazer campanha, mesmo estando legalmente inelegível. Alguns executivos avaliam que Tarcísio seria uma opção mais palatável do que outros nomes ligados a Bolsonaro, inclusive membros de sua própria família.

Apesar da inflação persistente e da queda de popularidade de Lula, a direita brasileira também enfrenta obstáculos para 2026. Bolsonaro segue como a figura mais influente do campo conservador, mas está proibido de disputar cargos públicos e prestes a ser julgado por tentativa de golpe após a derrota nas eleições de 2022.

O ex-presidente ainda não declarou apoio a nenhum sucessor em potencial, preferindo concentrar a energia de sua base mais radical em tentativas improváveis de reverter sua inelegibilidade. Isso levanta dúvidas sobre quando Bolsonaro escolherá um nome para representar seu grupo – e se esse candidato conseguirá unir tanto os eleitores fiéis quanto os moderados que migraram para Lula no último pleito. As informações são da agência de notícias Bloomberg.

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