Mesmo com a demanda aquecida por financiamentos imobiliários, os bancos têm olhado com cautela o ambiente da economia brasileira e não descartam a possibilidade de elevar as taxas dos empréstimos para a faixa dos dois dígitos – algo que não acontece desde o fim de 2017, de acordo com dados do Banco Central.
A taxa atual já belisca essa marca, com 9,8% ao ano na média, enquanto 12 meses atrás era 7,5%. “Vai virar dois dígitos? Pode até acontecer”, afirmou o diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Romero de Albuquerque. Ele não descarta que os juros da casa própria superem a marca dos 10%.
As incertezas sobre o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) depois das eleições, a inflação elevada e a possível extensão do ciclo de alta dos juros básicos (Selic) são consideradas pelas instituições financeiras como razões para a cautela.
O presidente da Abecip, José Rocha Neto, minimizou o risco de que as taxas passem por disparadas, mas concordou que a marca simbólica de 10% pode ser ultrapassada. “Pode ser que um ou outro banco passe dos dois dígitos, mas vai chegar a 10% ou 10,5%, nada muito mais que isso”, ponderou.
Ele acrescentou que uma alta pontual não será suficiente para derrubar o setor. “Se cabe no bolso do consumidor e a mensalidade compensa na comparação com o aluguel, o mercado vai continuar funcionando”.
Rocha Neto destacou que este será o segundo melhor ano da história para o crédito imobiliário, passando, pela segunda vez, da marca de 1 milhão de unidades financiadas. Levantamento da associação mostra que crédito se acomoda em um patamar menor do que o de 2021, recorde, mas ainda assim aquecido.
Em vigília
O diretor de crédito imobiliário e consórcio do Itaú Unibanco, Thales Ferreira da Silva, disse que não tem no radar perspectivas de mudanças na sua taxa “nem para cima, nem para baixo no curtíssimo prazo”. Segundo ele, o momento é de atenção ao mercado, monitorando a disponibilidade de funding (recursos da poupança para abastecer os financiamentos), curva futura de juros, concorrência, entre outros fatores.
O diretor de crédito imobiliário do Santander Brasil, Sandro Gamba, foi na mesma linha e disse que a posição do banco é de seguir monitorando o comportamento do mercado, sem tendência de alta ou baixa definida. “As taxas de juros ainda estão muito voláteis”, afirmou.
O diretor executivo de Habitação da Caixa Econômica Federal, Rodrigo Wermelinger, afirmou que não há discussões sobre uma possível redução nas taxas de juros dos empréstimos mesmo diante da premissa de fim da alta da Selic. O carro-chefe do banco estatal é o crédito a 8,85% ao ano mais TR, portanto, abaixo da concorrência.