Um levantamento realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo aponta que, desde o final do ano passado, a fidelidade da base aliada na Câmara dos Deputados às orientações do presidente Michel Temer tem caindo de forma constante. Se em julho de 2016 a média de apoio ao governo na Câmara dos Deputados era de 91% (maior índice desde 2003), neste mês essa taxa caiu para 79%, ou seja, 12 pontos porcentuais.
A pesquisa tem por base a coleta de dados sobre as votações nominais ocorridas no Congresso Nacional. O fim da “lua-de-mel” entre Temer e os parlamentares governistas ocorre no exato momento em que algumas das medidas mais importantes para o Palácio do Planalto estão prestes a entrar na pauta, a exemplo das reformas trabalhista e da Previdência.
Quanto mais recente o intervalo analisado, maior é a queda do apoio a Temer na Câmara. Nas primeiras 20 votações nominais do governo Temer, por exemplo, 92% dos deputados seguiram a orientação do chefe do Executivo. Já nas 20 mais recentes, apenas 68% fizeram o mesmo.
No acumulado dos primeiros 11 meses de gestão, Temer registra 84% de apoio junto aos membros do Poder Legislativo federal – taxa ligeiramente menor que a do mesmo período do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006).
Avaliação
O vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse acreditar que os índices de fidelidade ao Planalto caíram na proporção em que a agenda do Executivo ficou mais reformista e exigiu maior compromisso da base aliada. “As propostas ficaram mais duras e mais transformadoras, então é necessário um maior entendimento por parte dos parlamentares. Não é fácil isso”, afirmou o político gaúcho.
De acordo com Perondi, é natural que os parlamentares se “assustem” com a profundidade das reformas. Ele disse, ainda, que o governo está “apertando mais”, ou seja, chamando ministros e parlamentares para conversar sobre a necessidade das reformas: “Todos que participam do governo têm responsabilidade”.
O peemedebista acredita que a interlocução na base vem melhorando e os deputados estão compreendendo aos poucos que as reformas são necessárias para a retomada do crescimento econômico. Ele nega que a baixa popularidade de Temer nas últimas pesquisas atrapalhe nas votações: “O governo que só pensa em popularidade vive em uma jaula, não governa o País.”
Já o líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE), porém, atribuiu a queda de apoio em plenário ao governo federal ao aprofundamento da crise política, à falta de perspectiva dos parlamentares para 2018 e também à baixa popularidade de Temer (uma pesquisa Ibope divulgada no dia 17 apontou uma aprovação popular de apenas 9% ao desempenho do presidente. “Nunca um governo teve um nível de aprovação tão baixo como o de Temer. É um governo que não tem quem defenda, então como os deputados vão defender?”, questionou.
Ao votar os projetos de interesse do governo, a base pensa mais agora no impacto da aprovação das propostas em suas bases eleitorais, segundo Guimarães. “Deputado que apoia o governo Temer começa a ter medo da reação popular. O feitiço virou contra o feiticeiro”, disse o petista, comparando com os tempos da presidente cassada Dilma Rousseff.