“O reajuste dos combustíveis, principalmente da gasolina, veio abaixo do esperado. O maior impacto nos preços será do corte do ICMS. As taxas são não estão caindo mais porque o câmbio está pressionado”, afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, destacando que o petróleo tem fortes perdas no mercado internacional.
“Essa queda dos juros futuros parece até estranha em dia de estresse. Mas no contexto pós-Copom, de perspectiva de recessão nos EUA e perdas do petróleo, faz todo sentido”.
Embora as taxas futuras mostrem expectativa de nova alta da Selic em 50 pontos-base em agosto, Vieira prevê que uma elevação terminal da Selic em 0,25 ponto, para 13,50% e afirma que, dependendo dos indicadores daqui até lá, pode nem haver elevação adicional da taxa básica.
“O Copom poderia já ter parado agora, mas deu outra alta porque o Fed subiu em 75 pontos-base. Era hora de parar para esperar os efeitos defasados da política monetária”, afirma Vieira, para quem o imbróglio político envolvendo a Petrobras e eventuais riscos fiscais já estão embutidos nas taxas.
Em seu comunicado na quarta, o Copom afirmou que “antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude” da Selic em agosto. As projeções de inflação no cenário de referência do comitê “não incorporam o impacto de medidas tributárias sobre os preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações que estão em tramitação”.
No mesmo dia do anúncio do Copom, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que limita o teto do ICMS para combustíveis, energia e telecomunicações em 17% até dezembro – que já havia passado pelo Senado e é uma das principais iniciativas do governo Bolsonaro para segurar os preços da gasolina e do diesel. Essa medida, segundo analistas, pode reduzir a inflação neste ano, mas aumenta as expectativas para o IPCA em 2023.
A Petrobras anunciou nessa sexta o primeiro aumento dos combustíveis nas refinarias em 99 dias. O diesel vai subir 14,2% e a gasolina, 5,2%. Diversas casas fizeram as contas para calcular o impacto do reajuste sobre o IPCA deste ano. Pelos cálculos do Santander, o aumento da gasolina vai levar a acréscimo de 0,13 ponto porcentual na inflação, que o banco estima em 9,5% em 2022. Considerando gasolina e diesel, a Asa Investments projeta impacto de 0,22 ponto porcentual no IPCA deste ano.
A política de preços da Petrobras, que busca a paridade com o mercado internacional, e os lucros da petroleira foram alvo de críticas duras no meio político. O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou o reajuste de inconcebível e sugeriu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o presidente e os conselheiros da Petrobras.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que pode dobrar a taxação dos lucros da empresa, a quem acusou de não ter “absolutamente nenhuma sensibilidade”. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, propôs, em post no Twitter, que o governo divida “os enormes lucros da Petrobras com a população, por meio de uma conta de estabilização de preços em momentos de crise”.