Quando decidiu enfrentar a crise e não renunciar à Presidência da República, Michel Temer deixou em segundo plano um pretenso legado reformista e reduziu seu governo a uma estratégia básica de sobrevivência no cargo. No fim da tarde de quinta-feira (18), ao dizer que não deixaria o gabinete presidencial, Temer deu a senha de que confrontaria o processo, apesar dos custos políticos que isso traria à sua imagem e à de seu governo.
Com o Planalto ancorado no apoio do Congresso, o presidente percebeu que as acusações reveladas na delação da JBS devem corroer sua ampla maioria legislativa. Os 308 votos necessários na Câmara para aprovar a reforma da Previdência passaram a ser um objetivo distante.
A avaliação de auxiliares do peemedebista é de que o governo precisa reorganizar a coalizão na base do “arroz com feijão” – ou seja, com apoio sistemático de 250 deputados, e não mais dos 330 tidos como fiéis antes da crise que assolou o Planalto.
Com uma maioria mais enxuta na Câmara, composta por cerca de 250 dos 513 deputados, Temer conseguiria aprovar projetos de lei e medidas provisórias e, assim, continuar governando. Assim que a crise estourou, antes mesmo que os detalhes da delação fossem revelados, Temer se apressou em conter defecções na aliança. Seu foco foi o PSDB, que convocou para este domingo (22) uma reunião para discutir se continua com Temer.
Se, por ora, ganhou fôlego com os tucanos, ele não conteve o PSB, sétima maior bancada na Câmara, com 35 deputados. No sábado (20), o partido, que comanda o Ministério de Minas e Energia, decidiu deixar a base e pedir a renúncia de Temer. Manteve, por ora, os cargos no governo.
O presidente vai agora agir para evitar um efeito cascata. É consenso que a saída do PSDB levaria ao desembarque em massa de outras siglas. Nesse cenário, o governo estaria acabado. Apesar do esforço, aliados estão pessimistas quanto ao sucesso da costura de votos para fazer avançar sua pauta legislativa. (Folhapress)

