A chegada em massa de venezuelanos fez o Brasil decidir aumentar a presença militar na fronteira em Roraima e realocá-los em outros Estados, enquanto o presidente Michel Temer subiu o tom contra o governo de Nicolás Maduro ao culpá-lo pelo fluxo. Atualmente, centenas de venezuelanos chegam a cada dia ao Estado da Região Norte fugindo da fome, da escassez de medicamentos básicos e da instabilidade política no país vizinho. As informações são do jornal O Globo e da Agência Brasil.
Temer atribuiu diretamente a Maduro a responsabilidade pela fuga em massa. “Nós estamos em um embate diplomático com a Venezuela. Estamos a todo momento buscando uma ajuda humanitária”, disse. “Agora, discordamos da forma como as coisas estão caminhando lá. E essa forma como as coisas caminham é que geram os chamados refugiados. Hoje são milhares de venezuelanos que entram lá por Roraima. Portanto, nossa atuação é diplomática, responsável e contestadora do que acontece lá.”
Temer destacou que os ministros da Defesa, da Justiça e do gabinete de Segurança Institucional estiveram em Roraima na quinta-feira (8) para examinar as condições dos venezuelanos. Segundo o presidente, um decreto assinado na semana passada para garantir documentos de identidade provisória para refugiados ajudará o Brasil a ter melhor controle do fluxo e a dar-lhes condições de buscar trabalho adequado.
Na visita a Boa Vista, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou um plano de ação no qual o País dobrará para 200 o contingente de soldados em Roraima a fim de reforçar a fronteira. Também serão enviados funcionários do governo para atender às demandas agravadas com o alto fluxo. O plano começará realocando em março mil venezuelanos em quatro Estados: São Paulo, Paraná, Amazonas e Mato Grosso do Sul. A ideia é estimular o deslocamento deles pelo País.
“Estas pessoas não estão aqui porque querem. Eles foram empurrados para cá”, lamentou Jungmann. “A situação não parou de piorar.”
O ministro da Justiça, Torquato Jardim, que também foi a Roraima, disse que o País tem interesse em absorver a mão de obra qualificada – segundo ele, a maioria entre os que chegam. Entre 2014 e 2017, mais de 22 mil venezuelanos solicitaram refúgio no Brasil. Mas estimativas indicam que milhares chegaram sem pedir refúgio ou residência. O governo calcula, hoje, uma chegada diária de 700 venezuelanos.
Jungmann anunciou ainda a viabilização, em até 90 dias, de um censo que permita identificar o perfil dos solicitantes de refúgio. O plano é entender quem pretende se estabelecer na região, mudar-se ou voltar à Venezuela. Os resultados serviriam para permitir políticas de realocação.
“Essa é uma situação que todo o Brasil tem que abraçar, não só Boa Vista e Roraima”, ressaltou Jungmann.
O país segue os passos da Colômbia, que anunciou novos controles migratórios e reforços de segurança em seus 2.200 quilômetros de fronteira com a Venezuela. Segundo o Departamento de Migração, mais de 550 mil venezuelanos estão em território colombiano de forma regular ou irregular, e o número deve superar um milhão no meio de 2018.
A situação dos venezuelanos em Roraima é de total precariedade, contam organizações que apoiam o governo e agências na recepção migratória. Atendendo a trabalhadores com ensino médio ou superior empobrecidos, populações rurais e índios warao, os abrigos emergenciais sofrem com falta de água e eletricidade. Após visitas ao Estado, Camila Asano, coordenadora da ONG Conectas Direitos Humanos, classificou o ginásio Tancredo Neves (um dos principais centros de acolhida em Boa Vista) como um “armazém de pessoas”.
“Muitas famílias indígenas estão virando população de rua”, disse Camila ao jornal O Globo, criticando a resposta do Brasil como “descoordenada e insuficiente”. “Cabe ao governo federal assumir uma responsabilidade que não vem tendo e que está a cargo das autoridades locais. A migração é uma questão nacional.”
