O líder chavista, Nicolás Maduro, fez um apelo para que o povo dos Estados Unidos se una à Venezuela pela “paz no continente”, em meio às tensões provocadas pela mobilização militar americana na região. A declaração de Maduro, concedida à rede americana CNN na última quinta-feira (13), ocorreu no mesmo dia em que o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, anunciou que Washington conduzirá uma operação militar, batizada de “Lança do Sul, para combater grupos denominados ‘narcoterroristas’ e intensificar ações que “protejam o país das drogas”.
A agenda de combate ao tráfico internacional do presidente americano, Donald Trump, é apontada por Caracas como um pretexto para derrubar o governo chavista – com o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, comparando o cenário atual às alegações americanas sobre o desenvolvimento de armas químicas no Iraque, que motivaram a invasão do país do Oriente Médio no começo do século.
Maduro foi questionado sobre suas preocupações com uma possível agressão americana durante um evento com a juventude chavista em Caracas. À reportagem da emissora americana, ele respondeu de forma evasiva, limitando-se a dizer que estava “ocupado com as pessoas e em governar em paz”. Ao ser questionado novamente, desta vez sobre sua mensagem ao povo dos EUA, Maduro respondeu: “Unamo-nos pela paz no continente. Não mais guerras eternas. Não mais guerras injustas. Não mais Líbia. Não mais Afeganistão”, disse à CNN. Questionado uma terceira vez, sobre qual mensagem direta teria para enviar a Trump, o líder chavista disse que sua única mensagem seria: “Sim, paz. Sim, paz”.
As declarações de Maduro acontecem em um momento de particular tensão em Caracas, em meio às ações ostensivas de Trump na região. Hegseth detalhou na quinta-feira o escopo da nova operação a ser conduzida pelo Comando Militar do Sul, responsável pelas ações das Forças Armadas dos EUA na América Latina e Caribe. Na sexta-feira (14), o próprio comando divulgou fotos do porta-aviões USS Gerald R. Ford e sua flotilha de ataque no oeste do Oceano Atlântico, acrescentando que a missão daquele que é classificado pela Marinha dos EUA como “mais poderoso” porta-aviões do mundo é dissuadir redes ilícitas e neutralizar ameaças transnacionais.
Os militares americanos também confirmaram o 20º ataque contra barcos supostamente ligadas ao narcotráfico, em uma ação ocorrida na quarta-feira. O Pentágono indicou que quatro pessoas foram mortas na ação, elevando o número de vítimas no ataque para 80. Os EUA afirmam que os ataques são autorizados a partir de informações de inteligência, mas não ofereceu provas concretas de que as embarcações eram de fato utilizadas por cartéis.
Em Caracas, as operações americanas na região são vistas com desconfiança e motivaram uma série de medidas por parte do regime chavista – que aponta a presença militar de Washington no entorno como uma ameaça existencial. Em agosto, o governo americano ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura de Maduro, apontando-o como líder do narcotráfico. Trump também disse ter autorizado missões da CIA em território venezuelano, além de sugerir que as missões contra o tráfico, atualmente focadas em operações navais e aéreas, poderiam evoluir para missões em terra.
Trump realizou reuniões consecutivas em Washington nos últimos dias, analisando opções militares, incluindo o uso de forças de operações especiais e ação direta dentro da Venezuela. Ainda não está claro se o republicano tomou uma decisão sobre que tipo de ação autorizar, se é que há alguma.
Na sexta-feira, ele disse aos repórteres no avião presidencial, Air Force One, que “meio que” se decidiu. “Não posso dizer o que é, mas fizemos muitos progressos com a Venezuela em termos de impedir a entrada de drogas”, pontuou.
É possível que Trump esteja contando com a chegada de tanto poder de fogo para intimidar o governo de Nicolás Maduro, que os Estados Unidos e muitos de seus aliados dizem não ser o presidente legítimo da Venezuela. Maduro colocou suas forças em alerta máximo, deixando os dois países com suas armas engatilhadas e prontas para a guerra.
Havia sinais de que o governo estava adotando uma postura nova e mais agressiva. Logo após uma reunião na quinta-feira, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, postou nas redes sociais que a missão no Caribe agora tinha um nome – “Southern Spear” (Lança do Sul, em tradução livre). Ele descreveu seu objetivo em termos amplos, dizendo que a operação “remove os narcoterroristas do nosso hemisfério”.
“O hemisfério ocidental é a vizinhança dos Estados Unidos”, escreveu ele, “e nós o protegeremos”. Com a chegada do Ford e de três contratorpedeiros da Marinha que disparam mísseis, há agora 15 mil soldados na região, mais do que em qualquer outro momento nas últimas décadas. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.
