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Tensão na Ásia: Donald Trump faz ameaça, mas pode fazer pouco para frear a Coreia do Norte

EUA estão dispostos a agir sozinhos para enfrentar a Coreia do Norte, afirmou o Republicano. (Foto: Reprodução)

Quando o então presidente eleito Donald Trump disse no Twitter, no início de janeiro, que um teste de um míssil balístico intercontinental capaz de alcançar os Estados Unidos “não vai acontecer!”, havia duas coisas que ele não apreciara completamente: quão perto Kim Jong-un, o líder norte-coreano, já estava de alcançar essa meta, e quão limitadas são as opções de qualquer presidente para barrar as ações de Kim.

Os sete meses passados desde então têm sido de aprendizado brutal para Trump. Com o lançamento do míssil intercontinental na terça-feira (4), a Coreia do Norte ganhou novo alcance. Especialistas acreditam que o país tenha atravessado o limiar, mesmo que por pouco, com um míssil que parece ser capaz de atingir o Estado americano do Alasca.

Os testes reiterados promovidos por Kim revelam que uma demonstração mais definitiva de que ele é capaz de atingir a parte continental dos EUA pode não estar muito longe, mesmo que alguns anos ainda se passem antes que ele adquira a capacidade de colocar uma ogiva nuclear na ponta de seus mísseis cada vez mais poderosos. Mas, para Trump e sua equipe de segurança nacional, o marco técnico alcançado hoje vem apenas sublinhar com mais força o dilema estratégico de amanhã.

Como observou recentemente o ex-secretário da Defesa William Perry, a capacidade norte-coreana de atingir o território dos EUA “muda todos os cálculos”. O que se teme não é que Kim venha a lançar um ataque preventivo contra a costa oeste dos Estados Unidos; isso seria um gesto suicida, e, se o líder de 33 anos já demonstrou alguma coisa em seus cinco anos no poder, é que sua preocupação principal é a sobrevivência. Mas, se Kim possui a capacidade potencial de contra-atacar, isso vai moldar todas as decisões que Trump e seus sucessores vão tomar relativas à defesa dos aliados dos EUA na região.

Teste mais recente sugere que os Estados Unidos talvez já estejam ao alcance dos mísseis norte-coreanos, e esse fato, como observou recentemente um ex-alto funcionário da inteligência dos EUA, será levado em conta em todas as decisões militares e colocará pressão enorme sobre as defesas antimísseis dos EUA, em cujo funcionamento poucos confiam.

Trump ainda dispõe de algum tempo. O que os norte-coreanos realizaram enquanto os americanos estavam ocupados festejando o Dia da Independência nacional foi um avanço, mas não uma demonstração forte de seu alcance nuclear.

O míssil norte-coreano percorreu apenas 933 quilômetros, algo que por si só não constitui uma conquista importante. Mas chegou lá fazendo uma trajetória de 2.735 quilômetros que o conduziu ao espaço e de volta à atmosfera, um voo que durou 37 minutos, segundo cálculos do Comando do Pacífico americano (ou alguns minutos mais, segundo a Coreia do Norte).

Se essa trajetória fosse achatada, teríamos um míssil capaz de alcançar o Alasca, mas não Los Angeles. Isso reforça a avaliação feita pelo diretor da Agência de Defesa Antimísseis, o vice-almirante James D. Syring, que disse em audiência no Congresso em junho: “Precisamos prever que a Coreia do Norte possa nos alcançar com um míssil balístico”.

Talvez seja por isso que Trump não tenha anunciado nenhuma “linha vermelha” que a Coreia do Norte não possa ultrapassar.

Quais são, então, as opções de Trump, e que desvantagens elas possuem?

Existe a opção da contenção clássica: limitar a capacidade do adversário de expandir sua influência, como fez os Estados Unidos contra um adversário muito mais poderoso, a União Soviética. Mas isso não soluciona o problema –é apenas uma maneira de conviver com ele.

Trump poderia intensificar as sanções, reforçar a presença naval americana ao largo da península coreana –”estamos enviando uma armada”, ele se gabou em abril– e acelerar um programa cibernético secreto dos EUA para sabotar lançamentos de mísseis.

Mas, se essa combinação de intimidação e habilidade técnica tivesse tido êxito, Kim não teria conduzido o teste na terça-feira, sabendo que ele apenas levaria a mais sanções, mais pressão militar e mais atividade sigilosa –além de, possivelmente, persuadir a China que ela não tem outra escolha senão intervir de maneira mais decisiva.

Até agora, o entusiasmo inicial de Trump ao dizer que teria persuadido o presidente chinês, Xi Jinping, a reprimir a Coreia do Norte resultou em desapontamento previsível. Recentemente Trump disse a Xi que os EUA estão dispostos a agir sozinhos para enfrentar a Coreia do Norte. Mas é possível que os chineses vejam isso como uma ameaça da boca para fora.

Trump poderia tomar outra iniciativa, ameaçando com ataques militares preventivos se os EUA detectarem a iminência de outro lançamento de míssil balístico intercontinental –possivelmente um que vise demonstrar a possibilidade de alcançar a costa oeste dos Estados Unidos. (Folhapress)

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