Com a saída de Carlos Lupi (PDT) da chefia da Previdência e a entrada de Wolney Queiroz, da mesma sigla, governo Lula, em seu terceiro mandato, mantém 38% dos ministérios sob comando do PT, a maior proporção registrada para o partido do presidente no início do terceiro ano de mandato desde 2003, quando se iniciou o primeiro governo petista.
O índice é superior ao mesmo período das gestões de Jair Bolsonaro, com 9%, Michel Temer, com 34%, e Dilma Rousseff no primeiro mandato, com 32%, além das próprias administrações de Lula em 2007, com 33%, e em 2003, com 36%. O segundo mandato de Dilma não foi incluído, em razão de ter sido abreviado pelo processo de impeachment antes de chegar ao terceiro ano.
Mesmo com esse grau de concentração, a estrutura ministerial passou por alterações. De janeiro até agora, foram seis substituições na alta cúpula do governo, totalizando 12 desde o início do mandato. A maioria dessas trocas, no entanto, teve como objetivo acomodar demandas internas do PT ou responder a situações emergenciais, como no caso da saída de Juscelino Filho das Comunicações.
Atualmente, estão sob comando do PT os ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Direitos Humanos e Cidadania; Educação; Fazenda; Igualdade Racial; Mulheres; Saúde; Trabalho e Emprego; além da Casa Civil, da Secretaria-Geral da Presidência e da Secretaria de Relações Institucionais — todos estratégicos para o núcleo do governo.
Cientistas políticos e parlamentares apontam que, por um lado, o atual arranjo reflete um perfil mais centralizador de Lula, influenciado pelos efeitos da Operação Lava Jato sobre o PT, o que teria tornado o presidente mais cauteloso na distribuição de poder.
Por outro lado, essa configuração também decorre de um Congresso fortalecido, com bancadas mais ideologizadas e autônomas, em um ambiente em que integrar o Planalto se tornou politicamente mais custoso, especialmente em meio à queda de popularidade do governo.
O congelamento da coalizão rompe com a prática adotada por todos os presidentes da Nova República até aqui. Levantamento com base em dados do Cebrap mostra que, desde a redemocratização, cada governo promoveu ao menos uma reconfiguração na base até o início do terceiro ano de mandato — ou seja, a entrada ou saída de partidos da coalizão a partir de acordos formais com suas lideranças nacionais, e não apenas trocas de nomes dentro da sigla do presidente ou de partidos que já integravam a base.
Temer fez cinco alterações no arranjo partidário; Dilma, quatro no primeiro mandato e três no segundo; Bolsonaro realizou três; e Lula registrou cinco e quatro mudanças no primeiro e no segundo mandatos, respectivamente.
O terceiro mandato de Lula, por outro lado, é a única exceção e, até agora, não promoveu nenhuma grande mudança. Nos poucos casos em que atraiu siglas mais à direita, a adesão se deu por meio de alas minoritárias, sem o aval das cúpulas nacionais dessas legendas, como explica o professor de ciência política da USP Sérgio Simoni Jr.
Para o professor, essa diferença é crucial. “Quando um partido entra no governo apenas por meio de uma ala minoritária, sem o endosso da sua direção nacional, não há compromisso institucional. O resultado é a ocupação de espaço no Executivo sem que isso se converta, necessariamente, em apoio nas votações do Congresso, que a função da reforma ministerial. É o que acontece no caso de Lula 3.”
Esse tipo de adesão fragmentada ajuda a explicar por que partidos com ministérios, como União Brasil, PP, MDB, PSD e Republicanos, frequentemente se posicionam contra o governo em votações relevantes. Embora estejam representadas na Esplanada, essas siglas não firmaram acordos formais com o Planalto e, por isso, não se sentem obrigadas a seguir sua orientação, pontua Sérgio.
Na prática, participam da distribuição de cargos, mas não entregam votos. Esses mesmos partidos já ensaiam movimentos de oposição para 2026 e exibem possíveis pré-candidatos à Presidência, como os governadores Ratinho Junior (PSD), Ronaldo Caiado (União Brasil) e Tarcísio de Freitas (Republicanos). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.