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Tiros na catedral

Valha-nos, Deus! Fiéis rezavam na catedral de Campinas. De repente, um homem armado entrou e bum! Bum! Bum! Começou o tiroteio. Cinco pessoas perderam a vida. A tragédia virou notícia. Não deu outra. Repórteres falaram em vítimas fatais. Bobearam. Fatal é o que mata. Acidente mata. É fatal. Queda mata. É fatal. Veneno mata. É fatal. E a pessoa? A pessoa não mata — morre.

Doze badaladas

A missa trágica começou ao meio-dia. Assim, com hífen. Meia-noite joga no mesmo time. Grafa-se com o elo. Por quê? Na formação de palavras compostas, meio se usa com o tracinho: meia-água, meia-entrada, meia-direita, meia-luz, meio-campo, meio-irmão, meio-tom.

O matador

Feito o estrago, o matador se matou. Olho vivo! Ele se suicidou. Suicidar-se é sempre – sempre mesmo – pronominal. Quem conhece a origem do verbo acha estranho. O trissílabo vem do latim. É formado de sui (de si, a si) + cídio (matar). Significa matar a si mesmo. No duro, não precisaria do se. Mas o teimoso bate pé. Exige o pronome e não abre. O dicionário abonou. Só registra suicidar-se: eu me suicido, ele se suicida, nós nos suicidamos, eles se suicidam.

A vítima

Que coisa! Incêndio atingiu prédio no centro de São Paulo. O estrago foi grande. A vítima: a língua. Ao noticiar o fato, repórteres falaram em labaredas de fogo. Baita pleonasmo. O trio joga no time do entrar pra dentro, sair pra fora, descer pra baixo, subir pra cima, elo de ligação, países do mundo, hemorragia de sangue, encarar de frente.

Xô, desperdício! Só se entra pra dentro, só se sai pra fora, só se desce pra baixo, só se sobe pra cima, todo elo é de ligação, todos os países são do mundo, toda hemorragia é de sangue, toda labareda é de fogo. Basta entrar, sair, descer, subir, elo, país, hemorragia, encarar, labaredas. Autossuficientes, eles dispensam a companhia. Dão o recado sozinhos.

O que é?

“Labareda”, ensina o dicionário, “é grande chama, língua de fogo.” É fogo no aumentativo, fogaréu.

Gangue do MARIO

No fogaréu, o verbo incendiar apanhou de gregos, romanos, baianos e sergipanos. Muitos esqueceram que ele pertence à gangue do MARIO. Conhece? O nome da turma barra pesada se formou com a letra inicial de cada membro — mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar. Todos se conjugam como odiar.

Veja: odeio (medeio, anseio, remedeio, incendeio), odeia (medeia, anseia, remedeia, incendeia), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, incendiamos), odeiam (medeiam, anseiam, remedeiam, incendeiam); odiei (mediei, ansiei, remediei, incendiei), odiou (mediou, ansiou, remediou, incendiou), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, incendiamos), odiaram (mediaram, ansiaram, remediam, incendiaram). E assim por diante.

Leitor pergunta

– Minha dúvida se refere aos verbos ter e vir. A reforma ortográfica cassou o acento da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo? (Sandra Goulart, Porto Alegre)

Guarde isto: a reforma ortográfica só atingiu as paroxítonas. Oxítonas e proparoxítonas ficaram de fora. É o caso de ter e vir: ele tem, eles têm, ele vem, eles vêm.

– Lesa-futuro ou leso-futuro? Sempre me confundo. (Paulo Lessa, BH)

Olho vivo, Paulo. Leso joga em dois times. Um deles: verbo (eu leso, ele lesa, nós lesamos, eles lesam). O outro: adjetivo. Significa lesado: Ele está leso de uma perna. Ela está lesa de um braço.

Leso e lesa aparecem em palavras compostas. Cuidado! Use hífen e faça a concordância com o substantivo: lesa-pátria, lesas-pátrias, leso-patriotismo, lesos-patriotismos. E, claro, leso-futuro

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