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Tóquio, Osaka e Seul são as únicas metrópoles globais a não adotar isolamento em massa por causa do coronavírus

Conforme a OMS, "é preciso acompanhar o passo da pandemia". (Foto: Reprodução)

Em cerca de duas semanas, quase todas as grandes metrópoles do mundo reduziram suas atividades ao mínimo possível. Uma das exceções é justamente a maior delas, Tóquio, cuja área metropolitana abriga 35 milhões de pessoas.

Além da capital japonesa, Osaka (19 milhões) e Seul (9 milhões) não adotaram restrições amplas, mas apenas ações pontuais e recomendações para tentar conter o coronavírus.

O Japão, assim como a vizinha Coreia do Sul, aposta em testes em massa e no isolamento de áreas com focos do coronavírus. Na capital japonesa, algumas redes de comércio e serviços resolveram parar por conta própria até meados de abril, como uma empresa que controla 200 locais de caraoquê.

A reportagem analisou 32 cidades com mais de 10 milhões de habitantes e mais seis áreas metropolitanas de grande simbolismo: Wuhan, Seul, Teerã, Londres, Madri e Nova York.

A restrição de atividades começou na China, em janeiro, e foi adotada em efeito dominó a partir da segunda metade de março, em uma sequência de anúncios quase diários: em Madri (no dia 15), Paris (17), Bancoc (18), Buenos Aires (19), São Paulo (20), Nova York (22) e Londres (23).

Em seguida, a Índia decidiu por uma paralisação abrupta, que fechou algumas das cidades mais cheias do mundo no dia 25, como Nova Déli, Mumbai e Calcutá. E no dia 30, dois países reticentes, México e Rússia, também determinaram medidas de restrição, que atingiram a Cidade do México e Moscou.

Istambul, na Turquia, entrou em quarentena à meia-noite deste sábado (4). Apenas trabalhadores de serviços essenciais poderão circular, e há uma ordem para que menores de 20 e maiores de 65 anos fiquem em casa. A adoção da medida foi marcada por uma disputa entre o prefeito Ekrem Imamoglu, que defendia um lockdown, e o presidente Recep Tayyip Erdogan, que preferiu adotar primeiro restrições mais pontuais.

Para Valter Caldana, professor de urbanismo do Mackenzie, esse movimento deixou clara a articulação internacional cada vez maior entre prefeitos e governadores. “Em menos de 15 dias, uma rede de cidades parou o mundo, não uma rede de chefes de Estado”, avalia.

As ações tentam retardar a propagação do coronavírus, para ganhar tempo de preparar o sistema de saúde e evitar que haja um número explosivo de casos em poucos dias, o que levaria ao colapso dos sistemas de saúde.

As cidades adotaram estratégias praticamente idênticas: restringem a saída de casa, com exceção para comprar comida e remédios, ir ao médico ou trabalhar em funções essenciais. Os serviços de transporte público ficam reduzidos e surgiram hospitais de campanha em lugares como centros de convenções e estádios.

O que varia são a intensidade das medidas e a forma de exigir seu cumprimento. Na China e na Rússia, são usados apps para rastrear os movimentos. Na Índia, policiais nas ruas foram flagrados batendo nas pessoas com pedaços de pau para obrigá-las a voltar para casa. No Paquistão, há relatos de que moradores ignoraram os policiais e seguiram com a vida normal, porque os agentes estavam em menor número e não tinham como reagir.

Na China, as cidades vão retomando as atividades aos poucos. Informações oficiais apontam que houve estabilização no número de novos casos no país, mas o comércio enfrenta problemas.

Mesmo com o relaxamento das restrições no fim de março, lojas e restaurantes não voltaram ao faturamento de antes da crise. Em cidades como Xangai e Pequim, menos gente tem se animado a ir às compras ou sair para comer fora, apesar dos apelos do governo.

“A China é a primeira sociedade que está tentando reabrir, e não tem exemplos para se inspirar, então faz isso de forma muito mais conservadora. Quando for a nossa vez, poderemos aprender com o que foi feito lá”, comenta Renato Cymbalista, professor de urbanismo da USP.

 

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