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Trama golpista: acareação de Mauro Cid tem choque de versões entre réus e delator; veja detalhes

Tenente-coronel e ex-ministro Walter Braga Netto deram informações contraditórias sobre suposta entrega de dinheiro. (Foto: Rosinei Coutinho/STF)

O tenente-coronel Mauro Cid e o ex-ministro Walter Braga Netto mantiveram ontem suas versões sobre fatos relacionados à suposta trama golpista em acareação no Supremo Tribunal Federal (STF). Em reunião realizada na sala de audiência da Corte, ambos deram informações contraditórias sobre um encontro na casa de Braga Netto, em novembro de 2022, e a suposta entrega de dinheiro pelo ex-ministro. O confronto fez com que o delator fosse acusado pelo superior hierárquico no Exército de “faltar com a verdade” duas vezes.

Em depoimentos a portas fechadas de mais de duas horas, colhidos pelo ministro Alexandre de Moraes, Cid disse que calculou a quantia de dinheiro que teria sido entregue a ele pelo general a partir do “peso” de uma sacola de vinho, onde estariam depositadas as cédulas.

Insatisfação 

De acordo com ata da acareação, divulgada pelo STF, Cid afirmou que o recebimento do dinheiro foi consequência de negociações iniciadas em reunião na casa de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022, da qual o delator teria saído mais cedo.

Esses diálogos teriam ocorrido no contexto da empreitada para tentar reverter a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Braga Netto, contudo, manteve a sua versão de que “jamais entregou qualquer quantia em dinheiro” ao tenente-coronel.

Sobre a reunião na casa do general, Cid afirmou que os coronéis Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima — réus em outro núcleo da trama golpista — estiveram no local para falar sobre a “insatisfação que ambos estavam com o resultado eleitoral”. Já Braga Netto relata que os dois foram ao local apenas para que o cumprimentassem.

O relato dos dois réus converge em apenas um ponto: inicialmente, Cid procurou Braga Netto em busca de recursos, e o ex-ministro orientou que ele falasse com o tesoureiro do PL, Marcelo Azevedo. O tesoureiro, contudo, teria dito que não poderia oferecer qualquer quantia.

A divergência começa aí. Cid afirma que o general avisou que conseguiria o dinheiro de outra forma, e depois fez a entrega no Palácio da Alvorada, enquanto o ex-ministro nega que isso tenha ocorrido.

“O réu colaborador reafirma que o réu Braga Netto lhe disse que tentaria obter essa quantia de outro modo e que, posteriormente, teria entregue determinada quantia em dinheiro dentro de uma sacola de vinhos no Palácio da Alvorada. Por sua vez, o réu Braga Netto reafirma que, após a negativa do tesoureiro do PL, não tratou mais desse assunto e que jamais entregou qualquer quantia em dinheiro para o réu colaborador”, registra a ata.

Cid afirmou que a sacola de vinho estava lacrada e que, por isso, não viu o dinheiro.

Há duas semanas, durante interrogatório no STF, Braga Netto já havia negado ter repassado qualquer quantia.

“Eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro para ninguém”, afirmou o ex-ministro, na ocasião.

No interrogatório, ele reconheceu que dialogou sobre dinheiro. Na sua “cabeça”, porém, seriam valores sobre a campanha eleitoral — Braga Netto foi vice na chapa de Jair Bolsonaro.

Na versão de Cid em depoimento à Polícia Federal (PF), o dinheiro entregue por Braga Netto teria sido arrumado com “o pessoal do agronegócio”. O delator posteriormente teria repassado a sacola ao major Rafael Martins de Oliveira.

Cid também foi questionado pela defesa de Braga Netto por que não relatou inicialmente à PF a entrega de dinheiro. O episódio só foi narrado em uma audiência no STF, em novembro de 2024. O militar afirmou que, no dia em que prestou depoimento na PF, estava em “choque” devido à prisão de colegas, ocorrida naquele dia na Operação Contragolpe, que investigou um plano para matar autoridades.

Advogados 

O delator também foi questionado pelos advogados de Braga Netto sobre onde o dinheiro teria sido entregue, e disse não se lembrar, mas afirmou que a entrega pode ter ocorrido em três locais no Alvorada: uma garagem, um estacionamento e a sala da ajudância de ordens, setor que ele comandava na época.

“O general Braga Netto chamou de mentiroso em duas oportunidades o senhor Mauro Cid, que permaneceu durante todo o ato com a cabeça baixa”, disse o advogado José Luis de Oliveira, o Juca, que defende Braga Netto, ao sair do STF.

O advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, foi na mesma linha.

“O delator fez o que ele tem feito reiteradamente. Ele mentiu e, ao meu ver, foi desmoralizado”, disse.

Já a advogada Vânia Bitencourt, que defende o tenente-coronel, negou contradição por parte do seu cliente:

“Cid não se contradisse, manteve as mesmas versões, foram só dois pontos controvertidos. Se ele viu o Cid de cabeça baixa, eu não vi e eu estava do lado do Cid.” (Com informações do jornal O Globo)

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