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Troca de farpas entre ministros do Supremo: André Mendonça reage a fala de Gilmar Mendes sobre a existência de “narcomilícias evangélicas”

STF retomou julgamento após pedido de vista do ministro. Até agora o placar está 6 x 1 para ampliar o foro. (Foto: Carlos Moura/SCO/STF)

O ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), emitiu uma nota sobre uma declaração dada por seu colega, o ministro Gilmar Mendes, em entrevista à GloboNews. Na quarta-feira (13), Mendes afirmou que, no Brasil, existem “narcomilícias evangélicas”.

“Recentemente, o ministro Luís Roberto Barroso presidiu uma reunião extremamente técnica sobre essa questão, e um dos oradores falou de algo que é raro ouvir: uma narcomilícia evangélica, aparentemente no Rio de Janeiro, onde já se tem um acordo entre narcotraficantes e milicianos pertencentes ou integrados a uma rede evangélica. É algo muito sofisticado”, disse Gilmar Mendes.

André Mendonça relatou que teria conversando com Gilmar Mendes, que teria afirmado que não havia a intenção de ofender o segmento religioso com sua fala. Ao falar sobre a reunião do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em que o termo teria sido apresentado aos magistrados, Mendonça disse que se trata de uma fala “grave, discriminatória e preconceituosa”.

“Se isso ocorreu, trata-se de fala grave, discriminatória e preconceituosa, pois dirigida a uma comunidade religiosa em geral. De outra parte, posso afirmar, com muita segurança, que se há uma rede evangélica nesse país, ela é composta por mais de 1/3 da população, a qual se dedica sistematicamente a prevenir a entrada ou retirar pessoas do mundo do crime, em especial aqueles relacionados ao tráfico e uso de drogas, que tanto sofrimento causam às famílias brasileiras”, diz trecho do pronunciamento.

O ministro solicitou ainda a investigação dessas pessoas que se dizem evangélicas e estariam envolvidas em algum tipo de conduta criminosa.

– Leia o posicionamento do ministro:

“A partir de relato trazido pelo Ministro Gilmar Mendes, foi noticiado pela imprensa que, em reunião havida no STF, um dos oradores presentes teria dito que havia uma ‘narcomilícia evangélica’ que atuaria no Rio de Janeiro, e que ‘haveria um acordo entre narcotraficantes, milicianos e pertencentes a uma rede evangélica ou integradas a uma rede evangélica’.

Sobre o que teria sido dito na referida reunião técnica, importa-me trazer algumas considerações.

Primeiramente, registro que conversei com o Ministro Gilmar Mendes sobre o ocorrido. Na ocasião, sua Excelência reafirmou-me (i) seu respeito à comunidade evangélica, (ii) que de sua parte não houve qualquer intenção em constranger seus membros e (iii) que estaria à disposição da liderança da Igreja para conversar e esclarecer o assunto.

Em segundo lugar, importa anotar o grau de generalidade que teria sido dado pelo orador presente em referida reunião (‘narcomilícia evangélica’ ou ‘rede evangélica’). Se isso ocorreu, trata-se de fala grave, discriminatória e preconceituosa, pois dirigida a uma comunidade religiosa em geral. De outra parte, posso afirmar, com muita segurança, que se há uma rede evangélica nesse país, ela é composta por mais de 1/3 da população, a qual se dedica sistematicamente a prevenir a entrada ou retirar pessoas do mundo do crime, em especial aqueles relacionados ao tráfico e uso de drogas, que tanto sofrimento causam às famílias brasileiras. Além disso, consigno que a atuação dos evangélicos (assim como a de outras representações religiosas) nas comunidades e nas periferias deste país reconhecidamente está vinculada a obras sociais, mitigando a ausência do Estado e lacunas históricas do poder público em temas relacionados à educação, cultura e saúde, dentre outros.

Em terceiro lugar, se pessoas que se dizem ou se fazem passar por evangélicas estão envolvidas nesse tipo de conduta criminosa, afirmo, com total segurança, que o segmento evangélico é o maior interessado na apuração desses fatos. Assim, as pessoas e autoridades que têm conhecimento a respeito da prática dos referidos crimes devem dar o devido encaminhamento ao assunto. Espera-se, assim, que eventuais condutas ilícitas dessa natureza sejam objeto de responsabilização, independente da religião professada de forma hipócrita falsa e oportunista por quem quer que seja.”

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