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Trump chama Powell de “burro” e “teimoso”, e chefe do banco central dos Estados Unidos reafirma que corte nos juros pode esperar

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar publicamente o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central do país), Jerome Powell. (Foto: Reprodução)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a criticar publicamente o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central do país), Jerome Powell. O republicano chamou Powell de “burro” e “teimoso”, pouco antes de o banqueiro central participar de uma audiência na Câmara dos EUA.

Trump tem pressionado e feito repetidas críticas contra o presidente do Fed por cortes nas taxas de juros do país. Na última quarta-feira (18), a autoridade monetária decidiu manter, pela quarta vez seguida, o referencial na faixa inalterado de 4,25% a 4,50% ao ano.

“Deveríamos estar pelo menos dois a três pontos abaixo”, afirmou Trump, em uma publicação nas redes sociais antes da participação de Powell na audiência. Ele também disse esperar que “o Congresso realmente acabasse com essa pessoa muito burra e teimosa”.

Já no Congresso, o chefe do BC americano reafirmou que os cortes nos juros podem aguardar. Powell disse que não abrirá caminho para uma redução na próxima reunião do Fed, em julho, “ou em qualquer outra reunião”. Recentemente, integrantes da instituição chegaram a sugerir mudanças nas taxas.

“Não quero me concentrar em nenhuma reunião específica. Não acho que precisamos ter pressa”, declarou Powell. Ele também ponderou que o mercado de trabalho continua forte e que ainda há grande incerteza sobre os impactos das tarifas sobre importações aplicadas por Trump.

Risco inflacionário

Questionado por membros republicanos da Câmara sobre o motivo de o Fed não cortar as taxas, Powell disse que ele e muitos membros do Fed esperam que a inflação suba em breve. Por isso, o BC não tem pressa em aliviar os juros.

Segundo ele, as tarifas mais altas impostas por Trump podem começar a elevar a inflação neste verão do hemisfério norte (21 de junho e 22 de setembro), período que será crucial para a instituição considerar possíveis cortes nas taxas.

“Devemos começar a ver isso durante o verão, nos números de junho e de julho. Se não virmos, estamos perfeitamente abertos à ideia de que o repasse [aos consumidores] será menor do que pensamos. E, se isso acontecer, isso será importante para a política”, declarou.

“Acredito que, se as pressões inflacionárias permanecerem contidas, chegaremos a um ponto em que cortaremos as taxas mais cedo ou mais tarde”, acrescentou.

Powell também disse que a política do Fed não tem como objetivo endossar ou criticar a abordagem do governo Trump em relação ao comércio — mas, sim, lidar com o impacto da inflação. As previsões da instituição e do mercado indicam que o índice de preços irá ganhar força ao longo do ano.

“Não estamos comentando sobre tarifas”, disse Powell. “Nosso trabalho é manter a inflação sob controle e, quando as políticas têm implicações significativas de curto e médio prazo, então a inflação passa a ser nosso trabalho.”

Decisão sobre juros

O anúncio do Fed na última quarta-feira foi o quarto desde que Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos EUA, em 20 de janeiro. O cenário, porém, ficou mais adverso de lá para cá, diante da guerra tarifária promovida pelo republicano e da escalada dos conflitos no Oriente Médio.

Economistas e agentes do mercado têm feito uma série de alertas sobre os impactos nos EUA das taxas aplicadas a outros países — em especial, contra os principais parceiros comerciais dos norte-americanos. Algumas tarifas estão em vigor. Outras, foram suspensas.

O grande destaque vai para a guerra comercial entre EUA e China. Os norte-americanos chegaram a anunciar taxas de até 145% sobre produtos chineses importados. Pequim, então, respondeu com alíquotas de até 125% sobre a importação de itens dos EUA.

Em 12 de maio, as duas maiores economias do mundo firmaram um acordo sobre o tarifaço, com redução das taxas por 90 dias. Acusações de falta de cumprimento dos termos, porém, exigiram uma renegociação, cuja trégua está na mesa para avaliação de Trump e do presidente Xi Jinping.

Mesmo com a suspensão da escalada tarifária, agentes financeiros seguem receosos sobre os rumos da guerra comercial. A preocupação cresce com a aproximação da retomada das taxas do chamado “Dia da Libertação” de Trump, que atingiu mais de 180 países. A medida volta a valer no início de julho.

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