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Donald Trump diz que o resultado das eleições na Argentina fez os Estados Unidos “ganharem muito dinheiro”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou o argentino Javier Milei. (Foto: Reprodução)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou Javier Milei após o partido do presidente argentino conquistar uma vitória de recuperação nas eleições legislativas de domingo (26), o que, segundo ele, justificaria o apoio financeiro extraordinário que Washington ofereceu ao aliado sul-americano.

“Foi uma grande vitória”, disse Trump a jornalistas a bordo do Air Force One nessa segunda-feira (27), referindo-se ao fato de o partido de Milei ter conquistado a maioria dos votos em uma eleição vista como um teste para suas medidas agressivas de reestruturação da combalida economia da Argentina.

Trump avaliou, ainda, que Milei “não somente venceu”, mas “venceu por uma margem larga”.

“Essa eleição fez os Estados Unidos ganharem muito dinheiro”, afirmou Trump. “Os títulos subiram. A classificação da dívida inteira melhorou.”

A vitória de Milei é vista como parte de uma estratégia mais ampla de Trump para consolidar uma guinada política na América Latina, onde diversos países têm eleições marcadas nos próximos meses. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, liderou uma série de ações incomuns para estabilizar os ativos argentinos, depois de o peso ter despencado quando o partido de Milei sofreu uma derrota acentuada em uma eleição provincial no mês anterior.

Essa aposta – que envolveu mais de US$ 1 bilhão em compras de pesos, segundo estimativas de mercado – parece ter dado retorno. Se o peso argentino continuar a subir, em magnitude semelhante ao salto observado nas criptomoedas após as eleições, os EUA poderão lucrar centenas de milhões de dólares.

A aposta, no entanto, envolveu um país que deu vários calotes nas últimas décadas e ainda deve US$ 55 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Bessent, que teve uma longa carreira no mercado de fundos hedge especializado em câmbio, organizou neste mês um swap cambial de US$ 20 bilhões com o Banco Central da Argentina – uma estrutura incomum que contornou o Federal Reserve, tradicionalmente a principal contraparte em operações desse tipo. Ele também vinha trabalhando em um acordo de financiamento complementar de US$ 20 bilhões com bancos do setor privado.

Até a última terça-feira, o peso argentino havia atingido mínima histórica, e os títulos do país eram vendidos em queda, em meio à cautela dos investidores antes da votação.

Embora riscos significativos persistam – o partido de Milei ainda é minoritário no Congresso e o país continua fortemente endividado –, a ousada manobra de Bessent parece, por ora, ter sido mais uma aposta vencedora, décadas após sua participação em uma célebre aposta contra a libra esterlina britânica.

Nessa segunda-feira, Bessent indicou que os EUA poderão começar a reduzir suas intervenções. “Agora acredito que o mercado vai se autorregular e ganhar confiança nas políticas de Milei”, disse o secretário do Tesouro, também a bordo do Air Force One, durante a viagem de Trump à Ásia. “Eles têm grandes refinanciamentos no próximo ano, mas o povo argentino já se pronunciou.”

Em postagem no X (antigo Twitter), Bessent escreveu: “Parabéns ao presidente Milei pelo excelente resultado nas eleições de meio de mandato. O presidente Milei tem um mandato renovado para a mudança. A Argentina é um aliado vital na América Latina. Esses resultados são um claro exemplo de que a política do governo Trump de ‘paz por meio da força’ está funcionando.”

Bessent reiterou que o apoio financeiro americano foi concebido como uma “ponte” até o período pós-eleitoral. Ainda não está claro, porém, se a Argentina conseguirá manter o atual regime de câmbio controlado sem o respaldo dos EUA.

Muitos analistas acreditam que, passada a eleição, Milei pode adotar um câmbio flutuante, o que reduziria a pressão sobre a balança comercial do país. “O risco é que os formuladores de política na Argentina acreditem que a combinação da vitória política de Milei e do apoio (incondicional?) dos EUA lhes permita sustentar uma política de peso forte, mesmo sem um balanço externo capaz de sustentá-la”, afirmou Brad Setser, ex-funcionário do Tesouro e hoje membro do Council on Foreign Relations.

Nos Estados Unidos, o resultado positivo do investimento em Buenos Aires pode ajudar a silenciar críticas no Congresso, que se intensificaram nas últimas semanas.

Bessent foi questionado por democratas e republicanos sobre o apoio dado à Argentina, competidora direta dos EUA na exportação de soja para a China. Pequim suspendeu suas compras durante a atual colheita americana, como parte de sua retaliação à política comercial de Trump.

Bessent rebateu as críticas: “Essas compras de soja iriam acontecer de qualquer forma”, disse ele no programa Face the Nation, da CBS, no domingo. “É um mercado global. Os três principais fornecedores são Brasil, Argentina e Estados Unidos.” As informações são da agência de notícias Bloomberg.

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