A decisão do governo dos Estados Unidos de enviar militares e navios para as águas próximas à Venezuela causou especulações sobre os planos do presidente Donald Trump em relação ao regime de Nicolás Maduro. A Casa Branca afirma que a medida faz parte do combate ao narcotráfico. Maduro, por outro lado, denuncia a ação como ameaça à soberania nacional.
Até o momento, não há nenhuma informação pública sobre se e como os EUA pretendem agir na Venezuela ao enviar forças militares para os arredores.
Maduro é procurado pelo governo dos EUA, que no início do mês aumentou a recompensa pela captura dele para US$ 50 milhões (cerca de R$ 273 milhões). Ele e parte do escalão do governo venezuelano são acusados pela Justiça dos EUA desde 2020 de narcotráfico, conspiração com o narcoterrorismo e uso de armas em apoio a crimes. A recompensa por Maduro já havia sido promovida no governo anterior, de Joe Biden.
Os EUA enviaram três contratorpedeiros com mísseis guiados Aegis para as águas perto da Venezuela como parte dos esforços do presidente Donald Trump para combater as ameaças dos cartéis de drogas latino-americanos, segundo funcionários americanos informados sobre o plano.
Um funcionário do Departamento de Defesa afirmou que os navios foram designados para a região em apoio aos esforços de combate às drogas. O funcionário disse que os navios seriam enviados para permanecer “ao longo de vários meses”.
A ação não foi isolada. No último mês, Trump pressionou a presidente mexicana Claudia Sheinbaum e ameaçou enviar tropas militares para o território mexicano para combater os cartéis de drogas. Sheinbaum, no entanto, rejeitou a sugestão de Trump.
O líder americano também impôs sanções ao Canadá sob a justificativa de que haveria um fluxo de fentanil na fronteira com os EUA, mesmo que isso não tenha sido observado em relatórios oficiais, incluindo do Congresso americano.
Versão dos EUA
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que os EUA usariam “todo poder americano para impedir que as drogas inundem nosso país e para levantar os responsáveis à Justiça”. Ela também reiterou a posição dos EUA de que o governo Maduro não é legítimo.
Segundo a acusação dos EUA, Maduro seria o líder do Cartel de los Soles, uma suposta organização criada na década de 1990 para traficar cocaína produzida na Colômbia via a Venezuela, controlada por altos militares corruptos. Outro acusado de integrar o cartel também é procurado pelos EUA, o general Vladimir Padrino López.
Em fevereiro, Trump designou o Tren de Aragua, da Venezuela, o MS-13 em El Salvador e seis cartéis sediados no México como organizações terroristas estrangeiras.
O governo Trump argumenta que as conexões internacionais e as operações dos grupos — incluindo tráfico de drogas, contrabando de migrantes e ações violentas para expandir seu território — justificam a designação.
Invasão pode ocorrer?
O cenário de uma invasão permanece, por enquanto, improvável. A Venezuela é um país territorialmente grande, realidade muito distante das operações militares dos EUA em países como Granada, em 1983, ou Panamá, em 1989. O cenário que se desenha torna mais razoável a hipótese de apoio dos EUA à alguma ação interna venezuelana.
Uma ação desse tipo não seria estranha na História das relações entre EUA e América Latina, pelo contrário. Cabe lembrar que à frente da política externa americana está Marco Rubio, adepto da validade da Doutrina Monroe e das supostas benesses de uma primazia dos EUA na região.
Em 2019, os EUA, sob o primeiro mandato de Trump, apoiaram e reconheceram Juan Guaidó como presidente da Venezuela. Guaidó, que presidia a Assembleia Nacional da Venezuela, se autoproclamou presidente do país.
Reação de Maduro
Maduro anunciou na segunda-feira, 18, a mobilização de 4,5 milhões de milicianos da Milícia Bolivariana em resposta ao que chamou de ameaças dos EUA. O anúncio foi feito através da televisão venezuelana.
“Vou ativar nesta semana um plano especial para garantir a cobertura, com mais de 4,5 milhões de milicianos, de todo território nacional, milícias preparadas, ativas e armadas”, disse o ditador.
A milícia foi criada por Hugo Chávez, morto em 2013, e tornou-se posteriormente um dos cinco componentes da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB).
Nesta terça, a Venezuela também proibiu temporariamente a compra, venda e operação de aeronaves ou objetos não tripulados no espaço aéreo. A medida em relação aos drones terá validade de 30 dias prorrogáveis, a partir de 19 de agosto, e não se aplica aos órgãos de segurança e defesa do país, destacou o comunicado. As informações são de O Estado de S. Paulo