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Um inimigo a cada 15 dias: como Trump tentou emparedar alvos em série, dominou o noticiário e chacoalhou o mundo

(Foto: White House/Divulgação)

Donald Trump emparedou alvos internos e externos em série desde que assumiu o cargo de presidente dos Estados Unidos, há exatos três meses. Em um ritmo frenético, inundou o noticiário internacional com decretos, encrencas e ameaças com potencial para impactar todo o mundo.

Trump, de 78 anos, elencou ao menos seis grandes inimigos neste início de governo — uma média de um a cada 15 dias. Para enfrentar cada uma dessas fases, o presidente apostou em decretos, frases pesadas, ameaças e uso da força militar, contra os Houthis, grupo extremista iemenita aliado do Irã.

Veja, abaixo, os principais alvos de Trump nos 90 primeiros dias:

Imigrantes
Faixa de Gaza
Crise com a Ucrânia
Irã e Houthis
Tarifaço e China
Universidades

Além desses assuntos, Trump também mirou no funcionalismo público, na população trans, no Canadá, na Groenlândia e no Canal do Panamá. Esses temas, de certa forma, também dialogam com os grandes alvos do presidente neste do início do governo.

Maurício Santoro, doutor em Ciência Política pelo IUPERJ e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, afirma que Trump tem usado uma tática conhecida como “firehose” — ou “mangueira de incêndio”.

 Já o professor João José Forni, jornalista e consultor de comunicação, vê a estratégia de Trump em arranjar inimigos como típica de governos autoritários.

  • Segundo Forni, a comunicação do governo é caótica e propositalmente desorganizada com o objetivo de criar polêmicas e desviar o foco de assuntos que Trump realmente deveria enfrentar.
  • Com isso, Trump aposta na desinformação para evitar cobranças. O professor afirma que essa tática representa um risco concreto à democracia.

“Ele é o grande nome do momento, e fica feliz com isso. Mas o que importa saber é: será que o povo americano está feliz também? É isso que a gente vai se perguntar daqui alguns meses.”

Uma média de pesquisas calculada pelo estatístico Nate Silver mostra que a desaprovação de Trump vem crescendo nas últimas semanas. O índice passou de 47,1%, no início de março, para 50,8% na quinta-feira (17). Já a aprovação foi de 48,3% para 45,5%.

Imigrantes

Logo que assumiu o governo, no dia 20 de janeiro, Trump declarou emergência na fronteira dos Estados Unidos e assinou uma série de decretos para deportar milhares de imigrantes que vivem irregularmente no país.

Agentes federais de imigração receberam poderes ampliados para deter suspeitos, e imigrantes ilegais acusados de integrar gangues foram enviados para El Salvador.

O governo também ampliou o alcance da chamada “deportação acelerada”, permitindo a expulsão de imigrantes sem a necessidade de uma audiência judicial.

Trump assinou uma ordem para acabar com o direito à cidadania para filhos de imigrantes ilegais ou com vistos temporários nascidos nos EUA, mas a medida foi barrada na Justiça.
México e Canadá passaram a ser alvos de pressão para impedir que imigrantes sem autorização para entrar nos EUA chegassem à fronteira.

Impacto: As medidas causaram pânico entre imigrantes e levaram a milhares de detenções. O governo chegou a estipular uma meta diária de prisões — que não foi cumprida.

Por outro lado, várias medidas foram questionadas na Justiça.

O governo foi alvo de críticas, inclusive de países da América Latina, pela forma como os imigrantes foram deportados. Em um voo vindo para o Brasil, algumas pessoas chegaram algemadas.

Internamente, houve questionamentos sobre o cumprimento do devido processo legal nas prisões e deportações. Também houve o receio de que a deportação em massa de imigrantes prejudicasse a economia, já que poderia provocar escassez de mão de obra.

Em um caso mais recente, o governo admitiu que deportou por engano um imigrante que tinha proteção para não ser expulso do país. O caso virou uma disputa entre a administração Trump e o Judiciário, que classificou a postura do governo como “chocante”.

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