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Um ministro defendeu a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas

A ideia é usar o dinheiro para estimular setores como o de aviação e o naval. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, defendeu na noite de terça-feira (6) a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas.

Em dezembro do ano passado, o Ibama indeferiu a licença para que a petrolífera francesa Total explorasse a região. Segundo o órgão, um eventual vazamento poderia impactar a biodiversidade marinha e os recifes do local, além de haver “profundas incertezas” sobre o plano de emergência da companhia.

Em um jantar promovido pelo site “Poder 360”, Freitas afirmou que o debate ambiental está sendo feito de forma ideológica e apaixonada.

“A discussão tem que ser mais técnica, mais racional. Por que a gente não pode explorar petróleo na foz do Amazonas, se a Guiana, do lado, está explorando? Essa empresa opera no mundo inteiro com segurança. É de se espantar a ideia de que ela seja incapaz de apresentar estudos ambientais que sejam aprovados. O poço de petróleo só vai gerar riqueza e benefício para a sociedade se ele for explorado. Nós vamos condenar o estado do Amapá ao subdesenvolvimento? Se for para fazer voto de pobreza é melhor fazer de castidade e de obediência também, porque aí pelo menos a gente salva a alma” criticou o ministro.

Tarcísio de Freitas defendeu que o país acelere a exploração petrolífera antes que o óleo perca importância no cenário global. Segundo ele, o Brasil tem hoje 30 mil poços de petróleo, enquanto a Argentina tem 60 mil e os Estados Unidos todos os anos perfuram outros 60 mil.

“Nós estamos sentados numa riqueza imensa esperando o valor no tempo acabar. A idade da pedra não acabou por falta de pedra, assim como a idade do óleo não vai acabar por falta de óleo. Está todo mundo explorando. O que nós estamos esperando?”

Thiago Almeida, porta-voz da campanha Corais da Amazônia, da ONG Greenpeace, acompanha o debate em torno da exploração petrolífera na região e critica a comparação com o caso da Guiana.

“A exploração na Guiana é muito recente, a Exxon descobriu reservas lá há poucos anos, não estão produzindo ainda. E a costa do Amapá é diferente, as correntes são muito fortes, é difícil operar na região”, diz o pesquisador. “Não à toa, nenhuma das 95 tentativas de explorar petróleo ali desde os anos 1970 deu certo, e 27 foram interrompidas por acidentes, o último deles em 2011, quando uma plataforma da Petrobras não conseguiu manter sua posição e ficou à deriva.”

Almeida afirma que os problemas associados à exploração no local são “muito sérios” e que o parecer do Ibama que negou licença à Total foi “totalmente embasado em ciência e em conhecimentos técnicos”. O órgão ambiental está analisando outro pedido de licença na mesma região, da petroleira britânica BP.

“A dificuldade de operar na área continua igual. Nos preocupa muito ver uma decisão baseada em pesquisa sendo tratada hoje em dia como ideológica. O ambiente pode ser um tema apaixonante, mas a decisão foi baseada no conhecimento científico. Me preocupa que quem não é do meio, nunca conversou com os especialistas, critique sem embasamento algum.”

Exploração por indígenas

O ministro criticou também a demora na concessão das licenças ambientais em outros setores, citando como exemplo a linha de transmissão entre Manaus e Boa Vista. Roraima é o único estado da federação que não está conectado ao sistema interligado nacional e sofre periodicamente com desabastecimento.

“Temos que fazer uma linha de transmissão que foi contratada há cinco ou seis anos e não conseguimos. O impacto ambiental é baixíssimo, não tem coisa mais fácil. Basicamente o que vou desmatar são as bases das torres. A linha de transmissão está na faixa de domínio da BR-174, que cruza a reserva indígena. Fazer a linha custa R$ 1,5 bi; e não fazer custa R$ 1,5 bi por ano, que é o que a gente gasta de combustível, conta que todo brasileiro paga.”

Tarcísio de Freitas defendeu ainda a liberação para que os indígenas possam explorar comercialmente seus territórios. Para efeito de comparação, lembrou que há hoje 113 milhões de hectares de terras indígenas no Brasil, enquanto em apenas 9 milhões de hectares o Mato Grosso produz por ano 65 milhões de toneladas de grãos.

“A maioria dos índios já foi incorporada à nossa sociedade. O índio quer crescer, ficar rico, produzir, ser cidadão. Ele quer ter um espaço para professar sua fé, para exercitar sua cultura, dançar, se pintar, mas também quer o que nós queremos. Por que ele não pode produzir na terra dele? Será que ele não tem o direito também a ficar rico? Por que não termos índios ricos, milionários, que tenham seu próprio avião, sua caminhonete, que mandem seu filho estudar no exterior? Qual o problema?”

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