A COP 30 reuniu 195 países e milhares de delegações em um esforço coletivo que culminou no chamado Pacote de Belém, um conjunto de 29 decisões aprovadas por consenso. O que se viu foi um verdadeiro mosaico de compromissos: financiamento triplicado para adaptação, mecanismos de transição justa que colocam a equidade no centro, além de acordos sobre comércio, gênero e tecnologia.
No entanto, o texto final evitou mencionar explicitamente os combustíveis fósseis ou traçar um “mapa do caminho” para sua eliminação, revelando tanto a força dos lobistas quanto os limites da diplomacia climática.
A COP funciona em camadas bem definidas. No topo, os líderes políticos assinam e validam os acordos, dando o caráter decisivo e jurídico às resoluções. Abaixo deles, diplomatas e negociadores trabalham em maratonas de sessões, muitas vezes madrugada adentro, para alinhar cada palavra dos documentos.
Cientistas e observadores, por sua vez, sustentam o processo com dados e análises, garantindo que as decisões não se afastem da realidade climática. Foi nesse esforço coletivo que os textos finais ficaram prontos apenas no sábado, um dia após o prazo de encerramento, demonstrando a intensidade das negociações.
Curiosamente, não houve foto oficial dos líderes. A ausência foi deliberada: buscou evitar a personalização das conquistas e reforçar a ideia de que o protagonismo é coletivo, das delegações e da ONU, e não de indivíduos. Essa escolha, embora simbólica, reforça a noção de que o processo é mais importante que a imagem.
O pós-COP já está desenhado. Em março de 2026 haverá um encontro na Colômbia, que funcionará como espaço preparatório e de pressão política. Trata-se de uma reunião dentro do ambiente da ONU, mas com caráter mais flexível, permitindo que países latino-americanos articulem posições regionais. É positivo porque amplia a voz do Sul Global, embora possa gerar tensões se os consensos regionais colidirem com a agenda global.
A próxima grande etapa será a COP31 em Antalya, Turquia, em 2026, com um arranjo inédito: a Turquia será anfitriã logística, enquanto a Austrália comandará politicamente as negociações. Esse modelo híbrido foi a solução encontrada pela ONU após anos de impasse entre os dois países. É uma inovação que pode abrir precedentes para futuras conferências, equilibrando disputas de poder e garantindo que o processo não fique paralisado.
Em termos de avanços, a COP30 trouxe um reforço no financiamento climático, maior atenção à justiça social e à adaptação, além de novos compromissos nacionais — 122 países apresentaram metas atualizadas. Ainda assim, a ausência de um plano claro para combustíveis fósseis mostra que o caminho é longo.
O que se pode afirmar é que a COP30 não terminou: ela continuará reverberando nos parlamentos, nas empresas e nas ruas, moldando políticas e decisões até a próxima conferência. O martelo foi batido em Belém, mas o eco seguirá ressoando por muito tempo.
Em conclusão, a COP30 foi um marco de avanços parciais e de reafirmação da diplomacia climática. Mostrou que, mesmo sem respostas definitivas, o processo multilateral é capaz de gerar consensos e manter viva a esperança de uma transição justa. O verdadeiro teste será se esses compromissos sairão do papel. Até lá, a COP30 permanece aberta, reverberando como um chamado à ação global.
* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética
