Responsável pelo atendimento de uma ex-paciente de Denis Cesar Barros Furtado, o psiquiatra Rodrigo Pessanha fez severas críticas ao chamado Doutor Bumbum em sua página do Facebook. Uma mulher de 27 anos procurou Pessanha bastante debilitada após realizar consultas com Furtado em sua cobertura na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Pessanha defendeu uma reflexão profunda sobre a personalidade e conduta profissional do médico.
Achar que procedimentos cirúrgicos podem ser feitos em sua residência, sem infraestrutura adequada é algo que mostra desapreço pelas questões clínicas essenciais e suas possíveis consequências adversas. “Há três casos no direito penal: no primeiro, a pessoa tem perfeita noção do que está fazendo; no segundo, é o inimputável, que tem demência, delírio, que, por exemplo, matou a esposa e não sabe o que fez. Pode ficar num manicômio, mas não cumprindo uma pena. E há o semi-imputável que tem transtorno, sabe o que está fazendo, mas não tem controle sobre seus impulsos”, explica o psiquiatra, que acrescenta: “Essa zona cinzenta precisa ser investigada caso a caso. Precisa-se de muito tempo para obter um diagnóstico preciso. Mas não se trata de uma pessoa normal. Achar que procedimentos cirúrgicos podem ser feitos em sua residência não é normal”.
Nas redes sociais, o psiquiatra lamentou que Doutor Bumbum tenha podido trabalhar durante tanto tempo. Pessanha afirmou também que a atuação de Furtado é motivo de vergonha para sua classe. “(…) Há muitos responsáveis por esse descalabro, esse delinquente correu livre e solto, sem ser interpelado pelos órgãos normativos e, o que é pior, incensado pelas mídias sociais como exemplo de profissional capacitado e bem sucedido. A ele a dureza da lei é insuficiente, porque ele envergonha e contamina a credibilidade de uma classe de profissionais que na sua imensa maioria trabalha séria e honestamente. Aos siderados que se dispuseram a estimular esse sociopata recomendo reflexão.”
Poderá atender se for solto
Mesmo tendo o registro cassado pelo CRM (Conselho Regional de Medicina) do Distrito Federal, o Furtado ainda pode atender. Ele só ficará impedido de exercer a medicina definitivamente se a cassação for confirmada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
De acordo com o assessor jurídico do CRM, Marco Antônio Medeiros e Silva, cabe recurso contra a cassação dentro do próprio órgão. Portanto, o processo ainda não foi encaminhado ao CFM. “Ainda há espaço para a ampla defesa e o contraditório. Agora, se o registro for cassado de vez, não tem volta. Ele não poderá mais exercer a medicina no País.”
Não há prazo para que o conselho federal analise o caso. O CFM informou que não pode “agir de ofício” e cassar o registro de um médico. Antes, o processo precisa ser concluído pelo CRM local. O registro de Doutor Bumbum foi cassado na última quinta-feira (19), devido a um processo iniciado em 2016, em Brasília. A decisão, porém, só foi anunciada pelo Conselho do DF cinco dias depois da morte da bancária Lilian Calixto após um procedimento estético realizado no Rio de Janeiro.
No processo de 2016, fiscais constataram que ele fazia procedimentos sem a devida higienização (como macas sem lençol descartável) e apresentava fotos de “antes e depois”, o que é proibido na profissão. Na época, o CRM cassou o registro dele de forma cautelar – ou seja, antes de o processo chegar ao fim, devido à gravidade das denúncias. Três meses depois, o médico conseguiu reverter a decisão na Justiça Federal.