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Um relatório da CBF enviado à Fifa não retrata a realidade sobre a parcela de dinheiro recebida pelos intermediários no mercado brasileiro de futebol

Atualmente, 655 intermediários estão registrados na atividade. (Foto: Reprodução)

Um mecanismo para auxiliar no diagnóstico do fluxo de dinheiro no mercado brasileiro está com a eficácia comprometida pela “sonegação” de informações por parte de vários intermediários, os antigos agentes. Assim, é irreal o relatório mais recente enviado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) à Fifa (Federação Internacional de Futebol, entidade máxima do esporte), dando conta de que, entre abril de 2017 e março de 2018, R$ 31 milhões foram pagos aos intermediários brasileiros nas negociações feitas em território nacional.

Da mesma forma, é preciso olhar com ressalvas o documento que a Fifa publicou no início do mês, dando conta de que, em 2018, os clubes brasileiros pagaram US$ 15,2 milhões (cerca de R$ 60 milhões) em comissões.

Como muitos intermediários não alimentaram o sistema da CBF, a entidade foi atrás dos “devedores”. Nos últimos meses, o montante de R$ 31 milhões já saltou para cerca de R$ 80 milhões, conforme o diretor de registro, Reynaldo Buzzoni. Isso não quer dizer que os valores deixaram de ser declarados à Receita Federal.

“Eu notifiquei todos que tinham declarações pendentes”, ressaltou Buzzoni. “Temos que saber quanto há de movimento no mercado. É um extrato do futebol. Os intermediários que não enviam informações ficam sujeitos a punições da Câmara Nacional de Resolução de Disputas, mas o espírito no momento na CBF é acostumar a classe à obrigatoriedade.”

A CBF está pensando em um meio de evitar o lapso de informações. O caminho é alterar o sistema, deixando para os clubes dizerem o valor das comissões. Aos intermediários só restaria dar um “ok” confirmando o montante assinalado.

A Abaf (Associação Brasileira de Agentes de Futebol) também participa do movimento de apoio à declaração do valor, sem enxergar uma tentativa proposital de ludibriar os órgãos de controle. “É mais falta de orientação do que de maldade”, disse o presidente da Abaf, Jorge Moraes. “Até porque, se informar o anexo 3, fica respaldado para eventual cobrança. Deixar de informar só prejudica o próprio agente.”

Mercado

Atualmente, são 655 intermediários registrados na CBF. O mercado cresceu desde que a Fifa desregulamentou a profissão e deixou a prerrogativa para as associações nacionais. A falta de experiência de muitos é vista pela Abaf como uma das razões pelas quais o chamado “anexo 3” não é preenchido.

Os intermediários brasileiros repetem a ressalva dos “superagentes” nas reuniões da Fifa sobre o tema. Em nome da segurança, a classe é contra a publicação de quanto foi recebido. “Vai publicar, mas onde e para quem?, questionou o advogado Marcos Motta, que tem intermediários como clientes e participou de encontros em Zurique (Suíça) sobre o tema. “Se for só para a Fifa, tudo bem.”

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