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Uma pesquisa indica que para 56,8% dos brasileiros, os filhos estão interferindo nas decisões de Bolsonaro

Não se sabe ao certo quanto a "metralhadora virtual" de Carlos Bolsonaro (D) tem ou não o aval do pai. (Foto: Reprodução/Instagram)

Os familiares de um presidente da República não devem influenciar o mandatário nas decisões de governo para 75,1% da população, aponta pesquisa do instituto MDA encomendada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) divulgada hoje em Brasília. Isso independentemente de os familiares serem ou não políticos. Na avaliação de 56,8% dos entrevistados, os filhos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) – vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) – estão interferindo nas decisões do pai no Palácio do Planalto.

Um dos casos em que a interferência da família em assuntos de governo veio à tona foi na exoneração do ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno (PSL).

Ele teve a saída oficializada em 18 de fevereiro após travar discussões com o presidente e ser criticado publicamente nas redes sociais por Bolsonaro e seu filho Carlos.

Segundo a pesquisa, 58,3% estão acompanhando ou ouviram falar do caso e, destes, 54,5% acharam que a demissão foi “justa”. Ainda dentre os que ficaram sabendo da exoneração, 73,3% acreditam que Carlos Bolsonaro teve influência no episódio.

Quando a exoneração de Bebianno foi anunciada pelo porta-voz da Presidência, general Otávio Santana do Rêgo Barros, ele justificou a ação como de “foro íntimo”. De acordo com a pesquisa divulgada hoje, 85,9% consideram que a população tem o direito de saber o motivo das demissões de ministros.

A pesquisa ouviu 2.002 pessoas em 137 municípios de 25 Unidades Federativas nas cinco regiões do País entre os dias 21 e 23 de fevereiro. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. Ou seja, a probabilidade de a pesquisa retratar a realidade é de 95%.

Influência comparável ao elo de Getúlio e Alzira

Em maio de 1953, Getúlio Vargas (1882-1954) era alvo de duas CPIs e uma sucessão de manchetes duras da Tribuna da Imprensa, do jornalista Carlos Lacerda. Aos mais próximos, como a filha Alzira Vargas do Amaral Peixoto, o presidente parecia alheio à crise que se expandia.

Como se não bastasse a pressão no front político, o “patrão”, como ela o chamava carinhosamente, ainda não tinha se recuperado de um tombo recente, no qual havia fraturado o úmero e o fêmur.

Como conta Lira Neto no terceiro volume da biografia “Getúlio”, Alzira entrou no quarto do pai, no Palácio do Catete, no Rio, disposta a provocá-lo. “Patrão, o senhor quebrou a cabeça também? Ou ela ainda funciona?”

Entre a ironia e a petulância, a indagação contribuiu para Getúlio se reanimar e dar início a uma ampla reforma no governo federal.

Ao longo da história republicana do Brasil, a influência de Flávio, 37, Carlos, 36, e Eduardo, 34, sobre o pai presidente, Jair Bolsonaro (PSL), só é comparável em intensidade até este momento à de Alzira sobre Getúlio. A avaliação é de historiadores ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo.

É certo que Mario Hermes tenha colaborado com o pai, Hermes da Fonseca, presidente de 1910 a 1914. Ernesto Geisel (1974 a 1979) recebeu da filha, Amália Lucy, algumas sugestões, especialmente na área da cultura. A história do poder no País registra outros casos semelhantes.

Mas o peso dessas relações não se aproxima do que houve mais de seis décadas atrás com Getúlio e Alzira e ocorre agora com Bolsonaro e seus três filhos mais velhos.

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