A primeira etapa de uma pesquisa inédita realizada pelo governo gaúcho para determinar o número real de infectados por coronavírus estima que 5.650 pessoas tenham sido contaminadas no Rio Grande do Sul. Esse contingente é mais de sete vezes superior aos 762 diagnósticos positivos registrados pela própria SES (Secretaria Estadual da Saúde) até a noite desta quarta-feira (15).
As projeções levam em conta o resultado de 4.189 testes aplicados por amostragem em nove cidades de diferentes regiões e indicam a proporção de um caso para cada grupo de 2 mil habitantes. O estudo, coordenado pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas) ainda terá outras três fases, a fim de identificar a prevalência de Covid-19, incidência de casos mais graves e grau de letalidade.
A pesquisa mostra também que, para cada diagnóstico de coronavírus nesses municípios, existem outros quatro casos não notificados. No início deste mês, o Rio Grande do Sul tinha 389 casos confirmados da doença e, 15 dias depois, esse número era de 762 – ou seja, quase o dobro na estatística oficial.
Os resultados dessa primeira rodada foram apresentados durante coletiva de imprensa do governador Eduardo Leite no Palácio Piratini nesta quarta-feira. Conforme a SES, as coletas de sangue foram realizadas entre o último sábado (11) e a segunda-feira (13) em Porto Alegre e outras oito cidades, em um universo de 11,3 milhões de habitantes (31% da população gaúcha).
“Mesmo sendo números preliminares de uma primeira etapa de pesquisa, os resultados demonstram claramente que as medidas de isolamento social estão sendo fundamentais em conter o ritmo do avanço”, ressaltou o chefe do Executivo. “Não queremos perder ninguém, não interessa a idade. Não podemos admitir perder qualquer vida.”
Ele aguardava os dados, bem como outros indicadores, para avaliar a possibilidade de reduzir, manter ou ampliar as medidas restritivas de combate à pandemia. Acabou optando por permitir que algumas cidades afrouxem as diretrizes, enquanto metrópoles como Porto Alegre seguem até o fim do mês sem modificação no que se refere ao decreto estadual de emergência.
Situação
Responsável por coordenar o trabalho, o reitor da UFPel, Pedro Curi Hallal, estabeleceu um comparativo sobre o comportamento da pandemia em outros países e a situação do Rio Grande do Sul retratada no estudo: “A pesquisa ainda se baseia numa amostragem pequena, o que exige maior cuidado com interpretações sobre as estimativas. Nas próximas rodadas teremos um cenário mais claro”.
O Ministério da Saúde enviou 20 mil kits para viabilizar a aplicação dos testes e já programa replicar o mesmo estudo no restante do país. Seguindo critérios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a primeira rodada abrangeu de 332 a 500 pessoas em cada uma das seguintes cidades: Pelotas, Uruguaiana, Ijuí, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Canoas, Porto Alegre e Santa Maria.
Além da UFPel, a pesquisa mobiliza 11 instituições federais e privadas de ensino superior: UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul), Unijuí (Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Unipampa (Universidade Federal do Pampa), UCS (Universidade de Caxias do Sul), Imed Passo Fundo, UFSS (Universidade Federal da Fronteira Sul) e UPF (Universidade de Passo Fundo).
(Marcello Campos)