O laudo sobre o exame de sanidade mental no homem preso logo após esfaquear o então candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL) durante um ato de campanha só deve ficar pronto em janeiro. Adélio Bispo de Oliveira havia sido examinado no início deste mês na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde está preso, e o laudo deveria ter ficado pronto na última terça-feira.
No entanto, segundo a 3ª Vara Federal de Juiz de Fora (MG), cidade do ataque (cometido no dia 6 de setembro) e onde o processo tramita, a psiquiatra forense solicitou exames complementares. A nova análise está marcada para daqui a um mês, em Campo Grande, com previsão de laudo pronto dez dias depois.
O advogado Antônio Sérgio de Moraes Pitombo, que representa o presidente eleito Jair Bolsonaro, afirmou que não há nada no processo sobre a facada que afaste sua convicção de que Adélio contou com a colaboração de terceiros ao planejar e executar o ataque, que atingiu o político no abdômen.
“Desde o início do caso, eu tinha convicção de que ele (Adélio) não havia agido sozinho. Depois de ter acesso aos autos do processo, não há nenhuma prova lá que afaste essa convicção”, ressaltou.
Assistente de acusação
No dia 31 de novembro, o juiz federal Bruno Savino acolheu o pedido da defesa de Bolsonaro para que o presidente eleito fosse incluído como assistente de acusação no processo. A decisão, de acordo com Pitombo, foi tomada pela equipe jurídica do presidente, para verificar se Adélio autou sozinho.
O processo respondido por Adélio está suspenso desde o dia 24 de outubro, quando o mesmo magistrado determinou que o acusado fosse submetido a exames médicos para analisar se tinha capacidade mental de compreender o caráter ilícito do crime cometido por ele – em razão de alguma doença mental, por exemplo.
No último dia 3, Adélio foi avaliado no presídio federal de Campo Grande por dois psiquiatras selecionados pela Justiça Federal em Juiz de Fora. Até essa sexta-feira, ainda não havia informações oficiais sobre o resultado da avaliação.
Dúvidas
Passados mais de três meses desde o atentado, ainda pairam algumas dúvidas sobre o caso. Os pontos em aberto questões estão sendo apurados pela PF (Polícia Federal), que passou a investigar integrantes da defesa do réu confesso. Em um depoimento sigiloso, um deles detalhou como foi contratado para ajudar o criminoso perante a Justiça.
O criminalista Zanone Manuel de Oliveira Junior, coordenador da defesa de Adélio Bispo, afirmou para a Polícia Federal que, logo após o atentado contra Bolsonaro, foi procurado por um desconhecido para atuar no caso:
“Aquela pessoa se apresentou como conhecido de Adélio Bispo da cidade de Montes Claros, esclarecendo que conheceu o autor do fato criminoso em relacionamentos vividos no meio religioso naquela cidade”. O advogado ainda lembra que o contratante disse ter conhecido Adélio numa “evangelização na cidade de Salinas, Minas Gerais”.
Zanone também revelou ter se reunido com o desconhecido em seu escritório em Belo Horizonte (MG) na manhã seguinte ao atentado. Naquele encontro, o advogado disse que cobrava, em média, R$ 150 mil em honorários, mas o contratante achou o valor alto. O criminalista, então, topou dar um desconto de 83% e receber R$ 25 mil até a conclusão da investigação da PF:
“Aquela pessoa aceitou a proposta e pagou inicialmente o valor de R$ 5 mil em dinheiro. O restante seria pago em outras parcelas mensais. No entanto, o interessado em ajudar Adélio desapareceu”.
Ao se justificar por que aceitou defender Adélio por um valor inferior ao que costuma cobrar de seus clientes, Zanone disse que a “causa seria de interesse de qualquer advogado”. Ele também afirmou que contava com a possibilidade de participar de uma “audiência em plenário do júri em que estariam presentes testemunhas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O advogado escolheu como estratégia arrolar pessoas consideradas por ele como “desafetos” do presidente eleito, para serem interrogadas no tribunal. A ideia era dar uma grande exposição ao caso, assim como no julgamento do goleiro Bruno Fernandes de Souza, em que Zanone representou o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o “Bola”, apontado como coautor do assassinato de Eliza Samúdio.
