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Uma secretária contradisse o amigo de Temer e disse que o envelope era pesado

A polícia suspeita que Yunes, amigo há 50 anos de Temer, tenha atuado como intermediário de transações financeiras ilegais. (Foto: Divulgação)

A secretária Shirley Siqueira Gomes, uma das auxiliares do advogado José Yunes, disse em depoimento à PF (Polícia Federal) que entregou um envelope, com peso de dois a três quilos, a um emissário do operador financeiro Lúcio Funaro. A versão dela difere, em parte, do relato apresentado à polícia por Yunes. O advogado é um dos alvos centrais do inquérito que apura o repasse de R$ 10 milhões da Odebrecht para políticos do PMDB, numa negociação que teria sido intermediada pelo presidente Michel Temer em maio de 2014.

A polícia suspeita que Yunes, amigo há 50 anos de Temer, tenha atuado como intermediário de transações financeiras ilegais. Num depoimento em 28 de março, em São Paulo, Shirley disse que, depois de se reunir com Funaro, Yunes entregou a ela uma sacola com um envelope dentro. O envelope deveria ser repassado a um emissário de Funaro.

“Afirma a declarante que, embora não tenha retirado da sacola, lembra-se que as dimensões se aproximavam às de um envelope de papel tipo ofício, pensando aproximadamente de dois a três quilos”, informa a polícia no inquérito. Interrogado, Yunes disse que se tratava de um envelope lacrado de dois centímentos de espessura “que não era pesado”.

Segundo Funaro, foi o próprio Yunes quem entregou a ele o pacote, uma caixa e não um envelope, com R$ 1 milhão em espécie.

Aeroportos

Laudo produzido pelos peritos da Operação Lava-Jato no Paraná mostra que as entregas de dinheiro da Odebrecht ao advogado José Yunes e aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e de Minas e Energia, Moreira Franco, estão atreladas no sistema do departamento de propina da empreiteira a contratos de concessões de aeroportos.

O documento corrobora a hipótese criminal apurada pela PF em inquérito no Supremo Tribunal Federal em que Temer, Padilha e Moreira Franco são investigados por corrupção e lavagem de dinheiro. Solicitado pelo delegado do caso, o laudo já foi anexado ao inquérito, mas é mantido em sigilo.

O inquérito apura repasses relatados por delatores da Odebrecht a campanhas eleitorais do MDB em troca de favorecimento à empresa em contratos com órgãos públicos, entre eles, a Secretária de Aviação Civil da Presidência da República. Eliseu Padilha e Moreira Franco comandaram a Secretaria entre 2013 e 2015, no governo Dilma Rousseff (PT).

Os peritos Ricardo Andres Hurtado e Rodrigo Lange apresentaram no laudo todas as planilhas, e-mails e documentos relacionados aos codinomes Primo, Tabule, Angorá e Kibe encontrados nos sistema Drousys e Mywebday, ambos utilizados pelo departamento de propina da empreiteira baiana.
O primeiro documento encontrado relacionado a aeroportos foi uma planilha com a “programação semana por cidade 11 a 15/08/2014” em que o codinome Angorá está atrelado ao valor de 1,5 milhão de reais, proveniente da OTP – Odebrecht Transport. Segundo o ex-diretor de relações institucionais da empreiteira Cláudio Melo Filho, Angorá era o codinome utilizado para designar Moreira Franco mas também foi usado para entregas a Padilha.

Em um e-mail de agosto de 2014, a relação de valores destinados ao codinome relacionado a Moreira Franco e o tema aeroportos fica ainda mais explícito. O diretor da OTP Paulo Quaresma escreve a um funcionário do departamento de propina da Odebrecht, pedindo que ele programe o pagamento: “Aeroportos/Angora/R$3.000.000/Praça: São Paulo”.

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