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Vazamento de dados do banco Credit Suisse revela possíveis conexões criminosas entre 18 mil contas com mais de 100 bilhões de dólares em depósitos

Os clientes do segundo maior banco suíço incluem um elenco internacional de personagens com os quais a maioria das pessoas prefeririam não ser fotografadas. (Foto: Reprodução)

Os bancos suíços construíram uma reputação no mínimo duvidosa ao longo do século 20: a de abrigar em seus cofres, com presteza e sigilo, dinheiro de qualquer origem, lícita ou não. Com isso, ditadores, políticos e empresários corruptos e criminosos dos mais variados ramos recorreram a Zurique durante décadas para esconder o dinheiro originado de seus desvios.

A situação começou a mudar com a pressão imposta pelos Estados Unidos contra a lavagem de dinheiro depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Mas muito desse dinheiro permaneceu lá, quietinho, em contas numeradas e outros artifícios eficazes para ocultar a identidade dos correntistas.

Recentemente, um consórcio de jornais revelou que o banco Credit Suisse mantém ainda hoje mais de 18 mil contas em nomes de criminosos comuns, ditadores e suspeitos de violação de direitos humanos.

A informação vazada, que cobria depósitos estimados em mais de US$ 100 bilhões, veio de um denunciante que compartilhou suas descobertas com o jornal alemão Süddeutsche Zeitung. O jornal convocou então um consórcio formado por 46 outros veículos de comunicação de todo o mundo, incluindo The New York Times, Guardian e Le Monde.

Os clientes do segundo maior banco suíço incluem um elenco internacional de personagens com os quais a maioria das pessoas prefeririam não ser fotografadas.

Os clientes

Os titulares das contas incluem um chefe de espionagem iemenita implicado em tortura, funcionários venezuelanos envolvidos em um escândalo de corrupção e os filhos do ex-ditador egípcio Hosni Mubarak.

As contas foram abertas entre as década de 1940 e 2010, de acordo com o comunicado divulgado pelo Projeto de Denúncias sobre Crime Organizado e Corrupção.

“Vi com muita frequência criminosos e políticos corruptos que podem se dar ao luxo de continuar fazendo negócios como de costume, não importa quais sejam as circunstâncias, porque têm a certeza de que seus ganhos ilícitos serão mantidos em segurança”, Paul Radu, co-fundador do projeto.

“Nossa investigação expõe como essas pessoas podem contornar a regulamentação apesar de seus crimes, em detrimento das democracias e das pessoas em todo o mundo.”

Embora os bancos suíços, mundialmente conhecidos pelas rígidas leis de sigilo do país que protegem os clientes, não aceitem dinheiro vinculado a atividades criminosas, a lei não é aplicada, de acordo com o The New York Times, que citou um ex-chefe da organização anti-crime da Suíça.

Credit refuta

O Credit Suisse emitiu nota na qual “rejeita veementemente” as acusações feitas sobre suas práticas de negócios.

“As matérias apresentadas são predominantemente históricas, em alguns casos remontando à década de 1940, e as contas dessas matérias são baseadas em informações parciais, imprecisas ou seletivas, descontextualizadas, resultando em interpretações tendenciosas da conduta empresarial do banco”, disse o banco.

Cerca de 90% das contas citadas no vazamento já teriam sido fechadas ou estavam em processo de fechamento antes do início das investigações da mídia, prossegue o Credit.

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