Sem a barba esbranquiçada que lhe dava ares de náufrago e com o cabelo curto como o de um militar, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa perdeu a expressão arisca de quem nunca imaginara passar cinco meses recolhido a uma cela da Polícia Federal em Curitiba (PR) e um ano em prisão domiciliar em Itaipava (RJ).
Desde o dia 8 de outubro, ele cumpre pena em regime semiaberto e pode sair de casa de segunda a sexta-feira, entre 6h e 20h. Mas não está sendo fácil, segundo Costa. “Virei um leproso”, lamentou em sua primeira entrevista desde que deixou a prisão.
O ex-diretor da estatal, porém, admite que a situação tem mudado. Em vez dos gritos de “bandido!” que chegou a ouvir em um avião, por exemplo, ele já relata manifestações de apoio ao acordo de delação que fechou com a Operação Lava-Jato.
“Uma simples ida à padaria ou à farmácia virou um grande prazer”, desabafa. A tornozeleira eletrônica, protegida por uma meia branca, continuará com ele até outubro de 2016.
Ele fechou o primeiro acordo de delação premiada da Lava-Jato, em agosto do ano passado, entregando nomes de envolvidos no esquema de cartel e corrupção na empresa. Também devolveu cerca de 100 milhões de reais (oriundos de propinas) depositados na Suíça e nas Ilhas Cayman, além de 10 milhões de reais em dinheiro e bens que havia comprado com dinheiro de suborno.
Costa tem registrado suas memórias em um caderno que já conta com quase 80 páginas. O plano é transformar os manuscritos em livro biográfico. “Sem a delação, apoiada por minha família, a Lava-Jato não teria existido”, avalia.” (Folhapress)
